A transladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional marca um momento de tristeza e perda para Baião, um território, que mais uma vez, se vê enfraquecido e despojado de um dos seus maiores símbolos culturais. A história dos restos mortais do escritor já é longa e sinuosa: enterrado inicialmente em França após a sua morte, foi transladado para Lisboa e graças ao esforço incansável da família, em particular de D. Maria da Graça, encontrou finalmente repouso no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião, junto à Fundação Eça de Queiroz, em perfeita harmonia com o local que tanto inspirou a sua obra.
Agora, perante a decisão da transladação dos restos mortais para o Panteão Nacional, a sensação é de traição e desrespeito, tanto para o escritor como para o povo de Baião. Eça de Queirós, merece sem dúvida, honras de Panteão Nacional, pois é inegável o seu lugar no panteão da literatura portuguesa e mundial. Contudo, isso não deveria significar a remoção dos seus restos mortais de Baião, um lugar que eleva a sua memória ao colocá-lo no contexto rural que tanto permeia a sua obra.
Esta decisão não só ignora os desejos de uma parte da família de Eça de Queirós, como também desconsidera a vontade da maioria dos baionenses, que sempre viram no escritor um motivo de orgulho e uma ligação viva à sua identidade cultural. O responsável por este processo foi José Luís Carneiro, então presidente da Câmara Municipal de Baião, que, em vez de proteger o legado cultural do território que representava, cedeu à ideia de retirar o escritor do lugar que tanto significava para ele e para a sua memória.
Esta perda não traz qualquer ganho a Baião. Pelo contrário, priva o território de um dos seus maiores patrimónios, num momento em que o interior do país já enfrenta desafios em manter a sua relevância cultural e económica. José Luís Carneiro, enquanto presidente e filho da terra, deveria ter sido o primeiro a defender a permanência de Eça em Baião. Porém, ao permitir este desfecho, traiu o concelho, os baionenses e a memória do escritor.
Baião fica mais pobre com esta decisão, e o Panteão Nacional, embora enriqueça com a presença simbólica de Eça, não pode compensar o vazio deixado na terra que o acolheu.