André Ventura vai esta terça-feira a tribunal devido a cartazes políticos divulgados durante uma campanha eleitoral, nos quais se lia a frase ‘Os ciganos têm de cumprir a lei’. O processo judicial resulta de queixas apresentadas por associações e particulares, que consideram a mensagem discriminatória, tendo o Ministério Público decidido avançar com o caso.
Em causa estão cartazes usados pelo CHEGA em ações políticas e eleitorais, onde Ventura defendia uma aplicação igual da lei a todos os cidadãos, independentemente da sua origem ou pertença comunitária. Para os queixosos, a formulação da mensagem configura incitamento ao ódio; para o partido e para o próprio André Ventura, trata-se apenas de uma afirmação política enquadrada na Constituição e no princípio da igualdade perante a lei.
O líder do CHEGA tem sido claro na sua posição: recusa qualquer intenção discriminatória e sustenta que a frase em causa “não ataca pessoas, mas exige o cumprimento da lei”, algo que, afirma, deveria ser consensual num Estado de direito democrático. Ventura tem reiterado que não abdica de dizer o que pensa “por medo de processos judiciais ou de pressões políticas”.
O caso reacende uma polémica antiga em torno da atuação política de André Ventura, frequentemente acusado pelos adversários de ultrapassar linhas vermelhas no discurso público, mas também defendido por apoiantes que veem nestes processos uma tentativa de silenciar posições incómodas através dos tribunais.
Do ponto de vista jurídico, o tribunal terá agora de avaliar se os cartazes configuram discurso discriminatório punível ou se estão protegidos pela liberdade de expressão e de intervenção política, direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa. Especialistas lembram que a jurisprudência tem sido cautelosa nestas matérias, exigindo uma análise rigorosa do contexto, da intenção e do impacto real das mensagens.
A ida de Ventura a tribunal acontece num momento de forte exposição mediática e política, reforçando a estratégia de confronto que o líder do CHEGA tem assumido desde a fundação do partido. Para uns, trata-se de populismo judicializado; para outros, de mais um episódio de perseguição política travestida de moralismo legal.
Seja qual for o desfecho, o julgamento promete ter eco para lá da sala de audiências, colocando novamente no centro da discussão pública os limites do discurso político, o papel da Justiça e a forma como Portugal lida com temas sensíveis no espaço democrático.