Vemos, ouvimos e lemos

© Folha Nacional

Cantava-se nas Igrejas, num tom melodioso que encantava, unia e fazia bem à alma de quem assistia a esta parte da missa, depois das ladainhas e do levanta e senta.

O refrão era: “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. Era muito agradável repetir este refrão, pois deixava-nos a pensar em coisas boas da vida, na esperança humana de não ficar indiferente a quem sofre, a quem é marginalizado, a quem é excluído por outros motivos, sejam eles de riqueza, religião, oportunidade e até de sorte ou azar na vida.

Hoje, esta frase, surge aplicada à Igreja. Numa primeira análise aos gravíssimos casos de pedofilia identificados, perpetrados por representantes ou trabalhadores da Instituição, de acordo com as notícias na Comunicação Social. Deixam uma mágoa e uma revolta para quem confia na Igreja como função social ativa e meritória, para quem confia na sua mensagem de paz, amor e respeito por todos de inclusão e inter ajuda dos relevantes serviços para a sociedade e bem estar.

Mas, há um lado negro, e até horrível que a instituição, não pode tratar como se nada tivesse acontecido, por meias palavras ou por esconder com o passar do tempo estes crimes hediondos que fazem sofrer em silêncio alguns do fiéis que se entregaram  inocentemente. Devemos e temos de confiar na palavra de “Deus” transmitida por homens e mulheres religiosos que a representam em toda a sua dimensão de esperança e fé inabaláveis. A Igreja na sua dimensão evangelizadora não pode cair nos pecados que ela própria condena, mas que ao longo da sua longa história tem muito para redimir e absolver, se é que há absolvição possível nesta vida ou  apenas no “after Life“.  Casos de bacanais de alguns papas no tempo dos Bórgias, guerras santas e bulas papais para as sustentar, bulas papais de remissão de pecados futuros, as indulgências, inquisição e seus “tribunais” de sentenças de morte na fogueira etc…Hoje é claro estas nódoas envergonham a própria igreja e revoltam os fieis e crentes de hoje.

Nada como ter uma postura construtiva, assumindo as suas responsabilidades, consequências e até indemnizações cíveis, pois o sofrimento infligido, não pode ser silenciados à custa do sofrimento  das vítimas em total oposição da doutrina da própria Igreja. Hoje vivemos tempos obscuros e a Igreja não pode assumir a mesma cartilha de esconder, silenciar e deixar o tempo passar como se o tempo salvasse a sua face e a das vítimas do sofrimento.

Um dos maiores pensadores e filósofos da Igreja, são Tomás de Aquino, pensava e analisava que primeiro deve haver Justiça e depois Perdão. Apenas deste equilíbrio surgirá a absolvição mas nunca sem primeiro haver justiça.

Deste aparente paradoxo, surge a exclusão do silencio, do encobrimento e do aceitar do pecado e da absolvição depois e apenas depois da justiça aplicada.

Para esta necessária solução e aceitação dos casos graves acima referidos, não tem havido a necessária coerência de alguns responsáveis da Igreja nacional, ao demonstrarem a divisão interna perante estes casos identificados, com vitimas identificadas e em análise caso a caso, para que se possa seguir o tal caminho da justiça, com antecipação do seu  afastamento e proximidade de situações de contacto e risco de persistência. Assumindo os casos identificados, falando de uma só voz, afastando e colaborando na solução e não “modus operandi” do deixa passar, encobrir até ao esquecimento intolerável como solução de resolução aparente do problema por morte dos responsáveis. Como aliás já há casos desses. A morte do pecador iliba os seus pecados aos olhos dos vivos que sofreram?

Penso que Igreja nada mais deve fazer do que seguir as recomendações do sumo pontífice que levantou este grave problema.  Papa Francisco criticou o abuso infantil dizendo que é “uma espécie de ‘assassinato psicológico’ e, em muitos casos, um cancelamento da infância” e pediu para “parar de encobrir” o fenómeno da pedofilia.

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