Portugal é hoje um país que proporciona cada vez mais dificuldades aos jovens para formar novas famílias.
E é cada vez mais notório o resultado das medidas implementadas, porquanto os jovens casais são cada vez em menor número, tardam em sair de casa dos pais e quando o fazem, deparam-se com um cenário pouco favorável ao desejo de ter filhos.
É uma aventura muito arriscada e poucas vezes assumida a de encetar um projeto de uma vida.
Num novo episódio desta combinação de impasses que impossibilitam qualquer casal português de constituir família, surge um novo problema: as vagas nas creches.
Aliando-se este aos já existentes (baixos salários, crise habitacional, decadência do Serviço Nacional de Saúde,…) percebemos como é uma tarefa hercúlea começar uma família.
A Creche Feliz é um recente programa que disponibiliza gratuidade de creches a crianças nos 1.o e 2.o escalões.
Inicialmente, diziam, todas as crianças teriam acesso à gratuitidade.
Entretanto percebeu-se que seria apenas para crianças nascidas após 1/9/2021, que frequentassem IPSS ou amas da SS.
Constatou-se, então, que as vagas do setor social não eram suficientes nem para metade das crianças que precisam desta resposta social, e houve, portanto, necessidade de alargar o programa ao setor privado.
Os problemas surgiram quando os critérios de admissão das crianças a estas vagas têm em conta não só a avaliação social e económica do agregado familiar, mas também uma lista de fatores prioritários que não facilitam em nada um casal trabalhador com o seu primeiro filho.
Chegados aqui, apercebemo-nos de como estas supostas Políticas Natalistas à la socialista são um verdadeiro embuste, uma vez que colocam os jovens pais num beco sem saída.
Ou se aguarda uma eventual vaga na longa fila de espera, ou se abdica da gratuitidade e se pagam mensalidades exorbitantes.
Em qualquer das opções estamos perante cenários desfavoráveis, sendo que há ainda a possibilidade de o casal não conseguir sequer que o filho entre para a creche.
Com tantos obstáculos, é natural que falar deste programa cause apreensão entre a geração mais nova e leve outros casais a repensar até que ponto é viável ter filhos, visto que é aposta deste Governo dificultar a vida a quem os tem.
Na circunstância de o casal não ter um apoio familiar de retaguarda, a única solução para uma família que começa a dar os seus primeiros passos será a de que um dos pais abdique do emprego para cuidar da criança. O que a todos os níveis é um contra censo!
É aqui que começa a bola de neve: os jovens casais têm duas péssimas opções: – A perda do emprego ou a redução da carga horária.
Em ambas as situações haverá perda de rendimentos e redução do poder económico do casal.
Começa assim uma vida de entraves que nos torna subservientes e dependentes das esmolas governamentais, tão carinhosamente apelidadas de Subsídios.
E eis que passamos a ser – não um jovem casal que se emancipou e saiu da dependência dos pais – mas mais uma família vulnerável, sem ambição, resignada.
Socialismo é isto, de obstáculo em obstáculo, até à rendição total, que mais não é do que a aceitação da nossa condição de pobreza.
Como se aspirar a ser pobre fosse uma virtude e desejar uma vida de sucesso e de independência fosse um crime.
Contudo nem tudo é negativo no Programa Creche Feliz.
Da mesma forma que introduz um novo problema aos casais portugueses, também tenta dar- lhe solução – o desemprego. Assim, todos os mecanismos sociais são acionados e abre-se todo um mundo novo de apoios e – um lugar na creche.
Este episódio não deixa de ser simultaneamente:
a) irónico ter sido criado com a pretensão de facilitar a conciliação da vida familiar e profissional dos casais, mas ter sido o mesmo a criar conflito entre todas essas vertentes;
b) caricato ao revelar o ADN deste terceiro Governo de Costa: em tudo o que toca, tudo estraga, é um registo único e cada vez mais unânime na sociedade civil.