Cuidado portugueses: o Costa vai mais uma vez tentar enganar-vos.

Desta vez o pretexto é a TAP, assunto para o qual eu já aqui tinha chamado a atenção várias vezes. 

    O assunto da TAP pôs Costa entre dois fogos, mas ele sabe bem o que há-de fazer: continuar a enganar os portugueses. A situação da TAP é muito simples de entender. Está há muito tempo tecnicamente falida. Os défices têm sido até hoje cobertos pelos impostos dos portugueses e quem disser o contrário mente. Só que chegou um momento, o actual, em que Costa já não pode continuar a esconder a verdade aos cidadãos eleitores. E vai privatizar. Mas está entre dois fogos, como bem sabe. Para sobreviver, posto que já enganou a direita com a nacionalização, vai agora tentar enganar a esquerda com a privatização. 

    A direita já enganou ao nacionalizar a TAP. Procurou convencê-la com a arenga que a TAP é um bem colectivo, que, tal como está, até «dá lucro» e que é essencial aos interesses «estratégicos» do nosso país pois que, como o próprio Costa dizia há pouco, a TAP «tem a importância que as caravelas tiveram», e outras patranhas que os socialistas e a esquerda em geral gostam de invocar para justificar a manutenção de um activo que, a final, apenas lhes serve para distribuir empregos e mordomias entre a vasta clientela que os mantém. Tudo serviu para justificar a quantidade brutal de dinheiro dos contribuintes que Costa colocou na TAP. 

    Mas agora tem de enganar a esquerda, o que lhe coloca um problema adicional. É que a esquerda é obviamente contra a privatização da TAP, seja como for. Mas o Governo sabe que não pode deixar de privatizar. Trata-se de uma solução de recurso que apenas surge agora porque o Governo lá compreendeu finalmente que não há outra solução e que a continuidade da actual situação acabará por lhe causar danos eleitorais porque afasta do PS a classe média eleitoral, a mais sacrificada com os impostos que paga para manter a TAP artificialmente dentro do sector público. Até o CEO da TAP lá percebeu, só depois de nomeado, claro está, que «a máquina pública não é compatível com um mercado concorrencial». É um génio. 

    Que fazer então para o Governo não trair a esquerda mais radical, tanto mais que pode voltar a precisar dela em novas geringonças? O Governo já começou por encomendar a uns palhaços, que logo a comunicação social governamentalizada apresenta como iluminados, a tarefa de justificar a privatização, com a mesma desfaçatez com que há pouco defendiam o contrário. Afirmam agora que não há razões para alarme nas hostes mais esquerdistas porque o Governo vai manter na TAP privatizada uma posição tal que os interesses «nacionais» e «estratégicos» ficam «assegurados» e, portanto, a TAP continuará a ser «nossa».  Não dizem bem como nem podem dizer pois que sabem ou deviam saber que o direito europeu não condescende com qualquer artimanha socialista que dificulte o funcionamento das regras do mercado livre. Já inviabilizou as golden shares e não vai permitir a Costa mais nenhuma manobra manhosa para iludir o direito europeu. Mas Costa tem de insistir naquela cantiga para não irritar a esquerda, mesmo sabendo perfeitamente que deste modo vai prejudicar ainda mais a privatização. 

    O direito europeu não impede a permanência da TAP nas mãos do Governo, o que impede é que, uma vez privatizada, possa o Governo manter nela qualquer posição de controlo por meio de acções com direitos especiais, de administradores com especiais poderes ou de qualquer outro estratagema contrário ao regular e normal funcionamento das regras do mercado livre. Costa sabe disso e, portanto, vai vender à esquerda uma versão segundo a qual os interesses «nacionais» ou seja, do Governo ficam resguardados.   

    Assim se conciliam os interesses do Governo com o dos palhaços com a lição encomendada. O Governo tenta justificar-se e aqueles continuam a surfar a crista da onda pois a força com que agora defendem a privatização é o passaporte para amanhã garantirem um bom lugar na nova administração privada da TAP. Mais um episódio caricato do mainstream socialista. 

    De modo que Costa está num impasse. Se privatiza tem de dizer à esquerda que vai continuar a mandar na TAP, o que não é possível face ao direito europeu. Se não privatiza vai continuar a obrigar os portugueses a pagar impostos para manter a TAP, o que tem custos eleitorais. A TAP é um claro sintoma do desgoverno em que vivemos.   

    Mas não há problema para Costa. Ele já sabe o que fazer. Vai continuar a não fazer nada ou seja, a prometer aos contribuintes de direita que vão deixar de pagar impostos para financiar a TAP e aos de esquerda que não se preocupem porque o Estado vai continuar a mandar na TAP de modo a garantir os interesses «públicos». É isto o que ele sabe fazer. Está no seu elemento. E não se preocupem os mais esquerdistas porque amanhã, na perspectiva de uma nova geringonça, Costa nacionaliza a TAP outra vez.  

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