Candidato Milei menos radical em corrida eleitoral acirrada na Argentina

O cenário de paridade nas eleições presidenciais argentinas levou o candidato ultraliberal Javier Milei a conseguir apoio do ex-presidente Mauricio Macri, assegurando governabilidade e limitando as suas propostas mais radicais, segundo analistas ouvidos pela Lusa.

© Facebook de Javier Milei

“Javier Milei saiu da primeira volta enfraquecido pelo segundo lugar. Umas das principais críticas que lhe fazem é sobre a irrealidade das suas propostas, o impraticável de algumas medidas sem maioria parlamentar e a falta de governabilidade, a partir de uma profunda fraqueza estrutural: sem quadros para governar, para formar equipas, para preencher estruturas do Estado. O acordo com Mauricio Macri permite-lhe capitalizar um ativo”, indica à Lusa a analista política, Shila Vilker, diretora da consultora Trespuntozero, uma das quatro que previram a vitória parcial de Sergio Massa.

No domingo passado (22), o peronista de centro-esquerda Sergio Massa, aliado da ex-presidente Cristina Kirchner, venceu a primeira volta com 36,7% dos votos, enquanto a direita de Javier Milei obteve 30%. O vencedor em 19 de novembro deve sair de quem for capaz de seduzir os eleitores da candidata de centro-direita Patricia Bullrich, aliada do ex-presidente Mauricio Macri, que terminou com 23,8% dos votos.

Na quarta-feira, Patricia Bullrich, numa decisão concertada com Mauricio Macri, anunciou o apoio a Javier Milei por representar a mudança, em contraposição a Sergio Massa, por representar a continuidade.

A decisão, sem consultar as bases do próprio partido nem as demais forças que compõem a principal coligação opositora, Juntos pela Mudança, provocou um terramoto político que abriu fendas nos demais aliados para os quais Milei é um radical.

“Milei torna-se Macri por outros meios e isso permite-lhe manter a disputa aberta. A sociedade ainda não se inclinou por um dos dois. Esta é uma partida que ainda deve ser jogada”, avalia Vilker, para quem, “se a jogada de Milei e Macri der certo, Milei chega ao poder, enquanto Macri fica com mais da metade do governo Milei”.

“É uma jogada arriscada, mas, ao mesmo tempo, é uma forma de Macri materializar poder”, observa Vilker.

A aproximação entre Milei e Macri também acalmou os mercados, temerosos de duas propostas radicais do libertário: eliminar o Banco Central e dolarizar a economia, substituindo o peso argentino pelo dólar norte-americano.

Milei garante que as suas propostas são coincidentes em 90% com as de Bullrich, que a candidata derrotada não impôs nenhuma condição para o seu apoio e que a dolarização é irreversível. Porém, o mercado entende que, ao depender do bloco de centro-direita para aprovar reformas, agora sob a tutela de Macri, a dolarização não deve sair do papel. A corrida cambial, prevista para depois das eleições, por enquanto, ficou limitada.

“O dólar tinha subido muito antes da primeira volta devido a uma combinação entre péssimos fundamentos macroeconómicos e a ameaça de dolarização que propunha Milei. A expectativa de uma forte desvalorização levou as pessoas a fazerem enormes filas, desesperadas por comprarem coisas como uma forma de livrarem-se dos pesos. O resultado eleitoral não foi o que os mercados esperavam e a sensação agora é de que esse salto para o abismo não é tão provável”, explica à Lusa o analista económico Marcelo Elizondo.

“Macri entende que Milei carece de equipa para tomar decisões e que Milei é um fenómeno ‘outsider’. Macri vê uma oportunidade de construir governo e manter-se em vigência. E Milei vê uma oportunidade não só de ganhar a Presidência, mas de ter governabilidade”, aponta Cristian Buttié, diretor da consultora CB Opinião Pública.

Horas antes do anúncio de apoio de Patricia Bullrich e Mauricio Macri a Javier Milei, a consultora CB, outra das quatro que acertaram as previsões, divulgou a primeira sondagem para a segunda volta. Javier Milei tem 41,6% de intenções de voto, enquanto Sergio Massa soma 40,4%. Sem os votos brancos e nulos, a projeção fica em 50,7% para Javier Milei e 49,3% para Sergio Massa, com uma diferença dentro da margem de erro de 2,5 pontos percentuais.

Últimas de Política Internacional

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu disse hoje que o seu encontro com o Presidente norte-americano Donald Trump poderá contribuir para a conclusão de um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns em Gaza.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou este sábado a construção de 60 centrais de ciclo combinado para dar um novo impulso à elétrica estatal Comissão Federal de Eletricidade (CFE).
Uma nova ronda de negociações indiretas entre Israel e o Hamas deverá começar hoje no Qatar sobre um cessar-fogo e a libertação dos reféns em Gaza, disse uma fonte palestiniana ligada ao processo.
A Ucrânia reivindicou ter atacado hoje uma base aérea russa, enquanto a Rússia continuou a bombardear o país com centenas de `drones` durante a noite.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse esta sexta-feira, depois de conversar com o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, que concordaram em “reforçar a proteção” dos céus ucranianos após mais um ataque de drones e mísseis russos.
O chanceler alemão pediu hoje à União Europeias (UE) um acordo comercial rápido e simples com os Estados Unidos, que promova a prioridade a determinadas indústrias chave, seis dias antes do prazo estabelecido pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.
O pré-candidato anunciado às presidenciais brasileiras de 2026 Ronaldo Caiado, governador do estado de Goiás, advertiu hoje as autoridades portuguesas “que não baixem a guarda” contra organizações criminosas brasileiras que estão a instalar-se com força em Portugal.
O Senado dos Estados Unidos (EUA) aprovou hoje o projeto de lei do Presidente Donald Trump, apelidado de "Big Beautiful Bill", sobre as grandes reduções fiscais e cortes na despesa, por uma margem mínima de votos.
O serviço de segurança interna de Israel, Shin Bet, anunciou hoje que desmantelou uma rede do grupo islamita palestiniano Hamas em Hebron, na Cisjordânia ocupada, numa operação conjunta com o Exército e a polícia.
O Governo norte-americano anunciou hoje que vai cortar o financiamento federal para Organizações Não Governamentais (ONG) envolvidas em distúrbios, independentemente do resultado de uma resolução a aprovar no Congresso sobre este assunto.