“Em geral, na República Checa, levamos muito a sério a influência maligna e a desinformação. Já víamos isto antes com a Rússia, mas, especialmente desde 2022, vemos que há diferentes níveis e várias operações de ataques cibernéticos”, afirma em entrevista à agência Lusa na cidade checa de Praga o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Jan Marian.
A poucos dias do arranque das eleições europeias, marcadas 06 a 09 de junho, o governante assegura: “Vamos sem dúvida levar isto a sério, especialmente as questões cibernéticas, seja qual for a fonte, e temos de estar preparados”.
Apelando a “uma abordagem unida” na União Europeia (UE), Jan Marian diz à Lusa que, precisamente nos últimos dois anos e especialmente desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, o seu país tem apostado em combater as ameaças híbridas russas, tendo unidades dedicadas a esta tarefa no seu exército e serviços secretos.
“O nosso ministério tem ainda uma unidade especial no departamento de comunicações para refutar e enfrentar as narrativas e mentiras russas e usamos muito o humor nas nossas comunicações estratégicas”, refere Jan Marian.
No início deste ano, por exemplo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros publicou nas redes sociais uma campanha intitulada de “Contos de fadas do Kremlin”, denunciando de forma irónica informações falsas propagadas pelo regime russo.
“Isto não se trata apenas das eleições europeias, mas de um processo geral e de fazer o trabalho de casa. Além disso, teremos eleições regionais e para o Senado no final deste ano e teremos eleições legislativas no próximo ano, pelo que basicamente trata-se de estar sempre preparado”, adianta Jan Marian à Lusa.
De acordo com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, “esta é uma guerra constante contra este tipo de ameaças, é um trabalho constante”.
Na União Europeia, têm-se sucedido os alertas de alegada interferência e desinformação russa, nomeadamente na campanha eleitoral para as eleições europeias, na qual votam cerca de 400 milhões de cidadãos nos 27 Estados-membros.
Em causa estão atividades de desinformação, sabotagem, atos de violência, interferência cibernética e eletrónica, campanhas de desinformação e outras operações híbridas.
No início de maio, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) disse estar “profundamente preocupada” com os recentes ataques híbridos, de desinformação e interferência cibernética, da Rússia contra a República Checa e outros países Aliados, garantindo ação “individual e coletiva”.
No dia seguinte, a NATO condenou “atividades cibernéticas maliciosas” cometidas contra a República Checa, falando numa tentativa de “minar instituições democráticas”.
No mesmo dia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros checo afirmou que Praga tem sido repetidamente alvo de ataques informáticos orquestrados por um grupo com ligações aos serviços secretos militares russos.
A União Europeia já vincou que está pronta a responder aos ataques cibernéticos da Rússia contra países europeus nos últimos anos com “toda a gama de medidas” à sua disposição, depois de a República Checa ter acusado Moscovo de roubar dados ao governo checo.