O caso das gémeas é uma das várias promiscuidades existentes entre o Estado e entidades privadas, neste caso, particulares que passaram à frente de vários processos para ter acesso ao medicamento mais caro do mundo.
Desde há 50 anos que Portugal tem sido um péssimo exemplo no que à gestão publica diz respeito, em que à mistura de negociatas e corrupção se junta a tão famigerada cunha ou, em linguagem mais pomposa, tráfico de influências.
Nesta situação em concreto, trata-se da mais flagrante violação da lei moral à cara podre, tendo como protagonistas desta novela de vão de escada o Presidente da República, o seu excelso filho, a ex-ministra da saúde Marta Temido e o seu ex-secretário adjunto, Lacerda Sales.
Estes altos responsáveis políticos e não só, atiram o saco de culpas uns para os outros, não se dignando a ter um rebate de consciência que lhes permita, nem que seja por breves instantes, assumir a sua quota-parte de responsabilidade.
Lacerda Sales, outrora benjamim fiel de Marta Temido e o seu protegido, é agora o cisne negro de uma história rebuscada em que, pelos vistos, ninguém tem culpa de nada.
A ex-ministra da Saúde do Governo de António Costa, passou para Lacerda Sales o ónus da irresponsabilidade neste caso, lavando daqui às mãos; Lacerda Sales em comissão de inquérito passa as culpas para outros agentes políticos e entidades desculpabilizando-se da sua negligente atuação.
Ora, o que se está aqui a assistir é muito simples: outrora amigos e protegidos, estes políticos de pacotilha, tentam sair por cima de uma história que já os colocou em baixo; uma trama menor de uma qualquer novela venezuelana, em que ninguém é culpado de ter tomado uma atitude que lesou os contribuintes portugueses e os tratou como seres de segunda categoria.
Perante todas as questões com que é confrontado, Lacerda Sales assume um papel de cordeiro ferido, quando, na verdade, é um lobo real com uma elevada quota-parte de responsabilidade.
Quando todas as flechas veem na sua direção, ele projeta o seu escudo de incompetência e desvia as mesmas para a próxima vítima; Lacerda Sales é uma versão rasca do homem moderno: fraco, incongruente e incapaz.
No meio disto tudo, o erário público ficou afetado, os contribuintes portugueses foram gozados e o Presidente da República continua todo contente a tirar selfies como se não fosse nada com ele.
Lacerda Sales não se assume como responsável: e perante este caso, a única coisa que vagueia na sua intrépida mente é: obviamente, (des) culpo-me!