Este conceito refere-se à transição de altos funcionários públicos para cargos em grandes empresas privadas ou para outras posições no setor público e vice-versa. O principal problema desta prática reside no potencial conflito de interesses, uma vez que ex-governantes ou decisores públicos, ao mudarem para o setor privado, podem beneficiar as empresas com as quais passaram a colaborar através de decisões tomadas durante o seu tempo no Governo. Por outro lado, gestores e líderes, de empresas privadas que assumem funções no setor público podem, consciente ou inconscientemente, favorecer os interesses empresariais com os quais estavam anteriormente associados. Nos últimos tempos, esta prática tem sido alvo de fortes críticas, especialmente por parte de cidadãos e do Partido CHEGA, que é uma das vozes mais ativas contra este fenómeno. O Presidente do CHEGA, André Ventura, desde a sua primeira eleição para a Assembleia da República, há precisamente cinco anos, tem sido particularmente insistente na sua condenação, denunciando o que considera ser um “sistema de promiscuidade entre o poder político e o poder económico”.
Segundo André Ventura, tanto o Partido Socialista (PS) como o Partido Social Democrata (PSD), que governam há 50 anos, são cúmplices na perpetuação destas dinâmicas, que, de acordo com este, “corroem a confiança dos cidadãos nas instituições e promovem um sistema de privilégios”. As críticas ao fenómeno das ‘portas giratórias’ em Portugal não se baseiam apenas em retórica política, uma vez que um estudo recente conduzido pelo IPPS-Iscte, intitulado ‘O Estado da Nação 2024. Inquérito sobre a Justiça’, reforça as preocupações expressas por André Ventura e pelo CHEGA.
O inquérito revela dados significativos que corroboram a visão do partido, nomeadamente que 43% dos inquiridos são a favor da implementação de um “período de nojo” — um intervalo obrigatório entre o exercício de funções políticas e o regresso ao sector público, especialmente à magistratura. Mais impressionante ainda, 41% dos entrevistados defendem que os ex-governantes deveriam ser permanentemente proibidos de regressar à magistratura após o término dos seus mandatos políticos. Por outro lado, apenas 8% dos inquiridos se mostraram a favor do regime atual, que permite o retorno imediato dos políticos à magistratura sem qualquer tipo de restrição temporal.
Os resultados do estudo reforçam o argumento de que há uma desconfiança generalizada face à promiscuidade entre a política e o sector judicial, e são usados pelo CHEGA para justificar a insistência na sua proposta de pôr fim às ‘portas giratórias’. O partido acredita que estas medidas são cruciais para restaurar a confiança dos cidadãos nas instituições políticas e jurídicas, combatendo a perceção de que o poder político pode influenciar indevidamente o funcionamento da Justiça. O Partido CHEGA tem incorporado esta linha de pensamento no seu programa político e, no seu mais recente programa eleitoral, a posição do partido é clara e incisiva sobre o tema das ‘portas giratórias’.
No ponto dez da página dez, o programa do CHEGA defende a imposição de um período de nojo de oito anos, durante o qual ex-titulares de cargos políticos e altos cargos públicos ficariam impedidos de exercer qualquer função, remunerada ou não, em instituições tuteladas pelo governo. Este período de nojo seria uma forma de garantir que não haja sobreposição de interesses pessoais ou empresariais com o serviço público, protegendo, assim, a imparcialidade e a transparência nas instituições do Estado. Para o CHEGA, esta medida é crucial para restaurar a confiança dos cidadãos no sistema político e impedir a criação de redes de influência e privilégio entre as elites políticas e económicas. Segundo André Ventura, “enquanto estas dinâmicas não forem combatidas, os cidadãos continuarão a ver o sistema como corrupto e a democracia como fragilizada”. Esta questão toca numa das principais preocupações dos portugueses: a perceção de que o poder político e o poder económico estão intimamente interligados e que, muitas vezes, aqueles que ocupam cargos de grande responsabilidade pública acabam por beneficiar, direta ou indiretamente, os interesses privados. Ao insistir na necessidade de uma reforma profunda neste sentido, o Partido CHEGA pretende capitalizar a crescente desconfiança dos cidadãos nas instituições e oferecer uma solução que, na sua visão, visa moralizar a vida política e administrativa do país.
A polémica das ‘portas giratórias’ não é um fenómeno exclusivo de Portugal, sendo um tema amplamente discutido em vários países democráticos. No entanto, no contexto português, esta prática tem sido associada a casos mediáticos que abalaram a opinião pública, aumentando a pressão sobre os decisores políticos para adotarem medidas mais rigorosas que garantam a separação entre interesses públicos e privados.
O futuro da regulação desta questão dependerá, em grande medida, do debate político e das propostas legislativas que surgirem para lidar com este fenómeno, que muitos consideram uma das principais ameaças à integridade do sistema. “Os outros partidos não percebem que temos de acabar com a promiscuidade entre o Estado e os negócios privados? Com as ‘portas giratórias’ entre Governo e grandes empresas públicas? Será que apenas o Chega vê isto?” afirma o líder do CHEGA, André Ventura. “Não podemos deixar que esta porta giratória de compadrios e de promiscuidade entre o setor público e o privado ou entre empresas púbicas e o Governo continue” declarou.