As Malas Hipnotizantes

Era uma vez uma casa com o nome Portugal.
Era bonita, antiga e cheia de memórias.
Mas quem tinha a obrigação de cuidar dela… não cuidou.

Um dia, a casa começou a arder.
Primeiro a cozinha, depois os quartos… até o telhado começou a cair.
Lá dentro, o povo sentia o calor a apertar e o fumo a encher o ar.
E, em vez de apagarem o fogo, os moradores ficaram parados… a olhar para duas ou três malas no chão da sala.

— Viram? Foram aquelas malas! Aquele deputado roubou-as no aeroporto! — diziam uns.
— Mas ele foi expulso logo no próprio dia… A casa está a arder! — avisava o Joãozinho. — Temos de fazer alguma coisa!

Mas ninguém queria saber.
Todos estavam hipnotizados com as malas.

Durante dias, só se falava disso.
As televisões falavam das malas.
Os jornais falavam das malas.
No café, nas redes sociais, nas conversas de rua… malas, malas, malas.

E o fogo?
Continuava a crescer.

Na sala, num canto, estava um extintor.
Alguns diziam que esse extintor era perigoso.
Outros diziam que fazia muito barulho.
Chamavam-lhe radical, extremista, tentavam desvalorizá-lo ao máximo.

Mas havia uma coisa que ninguém podia negar:
era o único extintor naquela casa que nunca tinha falhado. O único capaz de apagar o fogo.

— Está ali o extintor! Vamos usá-lo! — gritava o Joãozinho.

Mas as respostas eram sempre as mesmas:
— Deixa-te disso. Esse extintor assusta-me.
— Não quero. Esse extintor é muito bruto.
— Já não quero extintores. “São todos iguais”…

Lá fora, dois homens com fósforos na mão soltavam gargalhadas.
Um chamava-se José, o outro António.
Estavam contentes por ver o povo hipnotizado a olhar para as malas,
enquanto a casa se desfazia nas chamas e a sobrevivência dos moradores se tornava cada vez mais difícil.

O Joãozinho tentou pegar no extintor, mas não conseguia sozinho. Estava cansado.

— Hoje é dia 18 de maio… A nossa casa já está a arder há muito tempo. Se não agirmos rápido, quem vai sofrer somos todos nós! — avisava o Joãozinho. — Ajudam-me a pegar no extintor para apagar o fogo… ou vão continuar hipnotizados a olhar para as malas?

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