Da fruta são produzidos licores, compotas, cosméticos, bolos, gelados, cerveja, gim, kombucha, chá e outros produtos que demonstram as múltiplas vocações do fruto que é bandeira do Fundão e que ajudam a criar valor em torno do ecossistema da cereja.
Há dois anos, Miguel Caniça, 50 anos, pesou o facto de a Cereja do Fundão ser “uma marca consolidada, reconhecida, que facilita a entrada em mercados”, quando decidiu investir cerca de dois milhões de euros numa fábrica de ultracongelados que também tem o exclusivo da produção do pastel de cereja do Fundão, no distrito de Castelo Branco.
A Cerenata da Gardunha, com 30 trabalhadores, quis primeiro sedimentar-se e, agora que vende empadas no país e estrangeiro, tem a intenção de este ano multiplicar a comercialização do pastel de cereja, até agora sazonal.
Em 2024, entre maio e junho, foram vendidas 30 mil unidades, mas o empresário vê potencial num “produto diferenciador, endógeno” para este ano já conseguir vender anualmente 200 mil pastéis feitos com polpa de cereja e tê-los disponíveis o ano inteiro.
A ideia é colocar o pastel de cereja do Fundão à venda em aeroportos, estações de serviço, pastelarias e pontos turísticos, mas também utilizar os canais habituais da empresa para a venda do pastel, ultracongelado, em superfícies comerciais e restauração.
Inicialmente, foi testada uma empada de cereja, mas o resultado não foi o esperado, por o fruto não ser o principal ingrediente, e estão a ser desenvolvidos outros produtos, como um pastel com requeijão e cereja do Fundão.
“Estamos a trabalhar para que, em 2025, o pastel de cereja do Fundão já seja comercializado o ano inteiro e não seja um produto sazonal”, adiantou à agência Lusa Miguel Caniça.
Luís Martins, 69 anos, teve com a mulher, Helena, a Sabores da Gardunha, empresa que começou por produzir compotas e licores de cereja e que venderam, mas, na reforma, perceberam que não conseguiam estar em casa.
Pegaram numa ideia antiga e começaram a pesquisar e a testar o casamento do chocolate artesanal com várias formas de trabalhar a cereja que produzem em Alcongosta, aldeia “berço da cereja” e onde criaram há quatro anos a Casa da Ponte.
Na espécie de laboratório com a mesma temperatura todo o ano usam a pedra de mármore para, com o secador ao lado, temperarem o chocolate, encontrarem os cristais pretendidos e criarem “produtos de excelência para nichos de mercado”.
O que apanham do pomar, tudo é aproveitado. Dos pés, para colocar nos bombons, às passas, para a tablete de chocolate negro com pasta de cereja e ginja liofilizada.
Começaram por uma caixa com seis tipos de bombons: com licor de cereja; com recheio de cereja e chocolate negro; recheio de cereja e chocolate de leite; com recheio de doce de ginja e o flor de cerejeira.
O casal de Alcongosta, “capital da cereja”, aproveitou o entusiasmo em torno do chocolate do Dubai para também produzir e inspirou-se no conceito para fazer experiências que resultaram na nova tablete, a apresentar durante a Festa da Cereja, que se realiza entre 06 e 08 de junho, certame que tem sido uma montra para vários tipos de produtos em que a cereja se pode transformar e múltiplas formas como pode ser utilizada na gastronomia.
“Pensei que, se tenho um produto tão nobre, como é a cereja do Fundão, juntando-a ao chocolate, só teria a ganhar”, realçou Luís Martins, que não tem a intenção de massificar a produção, artesanal, e referiu que gostava de ter “mais tempo e menos vinte anos” para explorar “o muito potencial da cereja”.
Os hotéis e alojamentos locais são mercado preferencial, mas os turistas também lhes batem à porta, por onde passam nas rotas ligadas à cereja, “a âncora do negócio”.