A CGTP e a UGT decidiram convocar uma greve geral para 11 de dezembro em resposta ao anteprojeto de lei da reforma da legislação laboral apresentado pelo Governo PSD/CDS-PP.
“É evidente que vai ter um impacto indireto grande. Desde os transportes, às escolas, aos equipamentos que estão fechados, enfim, o que possamos imaginar em termos dos serviços públicos e privados que estão vinculados à contratação coletiva parados”, disse a vice-presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, à Lusa.
O setor dos transportes públicos urbanos será um dos mais afetados na greve geral de quinta-feira, apesar de os utentes poderem contar com serviços mínimos nos serviços de comboios, autocarros, barcos, no Metro Mondego e no Metro do Porto.
Esta é a primeira paralisação a juntar as duas centrais sindicais desde 2013, altura da intervenção da ‘troika’.
Em termos da adesão dos trabalhadores da hotelaria, diz que o impacto “é menor do que do ponto de vista indireto”, que será como em outras greves “convocadas periodicamente pela CGTP”, lembrando que o grau de sindicalização é “mesmo muito, muito baixo” na hotelaria.
Opinião idêntica sobre os efeitos indiretos tem a secretária geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP, já que a sindicalização “não tem grande expressão”, à exceção do “caso da restauração das cantinas, onde há uma maior filiação”, disse Ana Jacinto à Lusa.
“Ao nível da restauração e da hotelaria os nossos trabalhadores estão a trabalhar. A questão é aceder aos seus locais de trabalho, por aí podem existir dificuldades, mas não esperamos uma grande adesão dos trabalhadores na restauração dita tradicional e da hotelaria. Poderá haver um ponto ou outro que nos preocupa, sim, que é um bolo maior e que é mais grave. Estamos a falar da restauração coletiva que opera dentro das escolas do setor público, basicamente as cantinas. E essas são exatamente o que é crítico, onde têm inclusivamente que ser sempre assegurados os serviços mínimos”, disse Ana Jacinto.
Antes, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) também já tinha reiterado à Lusa esperar uma fraca adesão direta, mas impactos indiretos elevados.
“No que diz respeito às nossas empresas, aquilo que temos estado a ver com as associações, não nos parece que vá haver uma grande adesão à greve. Existem, sim, os efeitos indiretos, muito provocados pelos transportes”, sustentou Francisco Calheiros.
A AHRESP junta-se à CTP também para considerar a convocatória da greve geral – que reconhecem como um direito constitucional a ser usado com parcimónia e equilíbrio – é, nesta altura, despropositada e extemporânea.
“Parece-nos um bocadinho despropositado, extemporânea e até desproporcional (…). Parece-nos que não pensam nos efeitos que tem para o país, porque todos nós o que queremos é que o país seja cada vez mais robusto, que cresça”, considerou a responsável da AHRESP.
Francisco Calheiros já tinha utilizado os mesmos adjetivos por considerar que não houve ainda debate suficiente em Concertação social, porque não foram esgotadas as vias de diálogo entre Governo e sindicatos.
Os dois responsáveis alertam para o impacto negativo na imagem e funcionamento do setor do turismo, num momento, alegam, em que o país necessita de estabilidade e crescimento.
As alterações previstas na proposta – designada “Trabalho XXI” e que o Governo apresentou como uma revisão “profunda” da legislação laboral por contemplar mudanças em “mais de uma centena” de artigos do Código de Trabalho – visam desde despedimentos, à área da parentalidade, alargamento dos prazos dos contratos, entre outros.