Foram cerca de seis meses de tensão permanente vividos no serviço de Neurologia do Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, na Amadora. Segundo apurou o PÁGINA UM, um cidadão estrangeiro em situação irregular em Portugal recusou abandonar a unidade hospitalar depois de receber alta clínica e acabou por transformar o serviço num palco de intimidação, medo e constrangimentos graves para profissionais e doentes.
O homem, identificado como ‘António Gomes’, deu entrada nas urgências a 7 de maio. O seu estado clínico evoluiu favoravelmente e, pouco mais de uma semana depois, a 16 de maio, foi formalmente declarada alta médica. No entanto, o doente recusou sair da unidade, alegando necessitar de uma cirurgia cuja indicação clínica nunca foi confirmada pelos médicos.
De acordo com a mesma fonte, ‘António Gomes’ passou a ocupar o serviço de Neurologia como se fosse uma residência improvisada. Ao longo dos meses, manteve um comportamento descrito como agressivo e conflituoso, com episódios de ameaças e intimidação dirigidos a médicos, enfermeiros e assistentes operacionais. A situação atingiu tal gravidade que a administração hospitalar foi obrigada a condicionar o acesso ao serviço, numa medida excecional para proteger profissionais e utentes.
O Hospital Amadora-Sintra confirmou a ocorrência ao Página UM, explicando que todas as avaliações clínicas realizadas concluíram pela inexistência de condições para qualquer intervenção cirúrgica. Ainda assim, o homem insistia repetidamente em ser operado e chegou mesmo a exigir que o Estado português lhe atribuísse uma habitação como condição para abandonar o hospital.
Antes de se dirigir ao Amadora-Sintra, ‘António Gomes’ já tinha sido observado no Hospital de São José, em Lisboa, onde os médicos chegaram à mesma conclusão clínica: não havia indicação para cirurgia. Apesar disso, deslocou-se posteriormente à Amadora acompanhado por um irmão, que também terá pressionado e intimidado profissionais de saúde ao longo do processo.
De acordo com informações recolhidas, o cidadão encontrava-se em situação irregular no país e já teria pendente uma ordem de expulsão. A permanência prolongada no hospital, sem justificação clínica, agravou o clima de instabilidade no serviço.
O impasse terminou apenas no passado dia 4 de dezembro, quando as autoridades foram chamadas à unidade hospitalar.