Marcelo Rebelo de Sousa, tentou – mal, muito mal – sustentar recentemente a responsabilidade histórica do nosso país pelos atos cometidos durante a era colonial, defendendo a necessidade de reparação às ex-colónias, e propondo medidas concretas para corrigir erros e devolver bens às antigas colónias.
Ótimo, vamos então iniciar o processo de devolução.
Convocaremos os Vice-Reis e seus descendentes.
Em seguida, chamaremos os Governadores-Gerais e os seus herdeiros.
Após a expropriação dos bens destes grupos, retomaremos a discussão.
É isto o que se pretende? Este exercício de auto-flagelação que constitui, como bem apontou por estes dias André Ventura, traição a Portugal?
Estou, inclusive, em crer que as outras falas desatinadas da passada semana sobre certas pessoas com comportamentos rurais, e outras lentas por serem orientais, teriam mesmo porventura como objetivo ofuscar esta, que é de extrema gravidade.
A notícia já se espalhou, claro, pelo mundo, para gáudio do Brasil (o Correio Brasiliense escreve, de forma hilariante, que “Presidente de Portugal diz que novo primeiro-ministro é caipira, imprevisível e dá muito trabalho”), e promete ser a origem de inúmeros constrangimentos, podendo até desencadear processos judiciais e complicações diplomáticas nas mãos de aproveitadores.
E pensar que o autor destas declarações lamentáveis é filho de um Governador-Geral de uma província ultramarina — portanto, alguém diretamente envolvido nos “crimes coloniais” que o próprio descendente agora denuncia como reais!
Ora tudo isto não passa, como está bem de ver, de um verdadeiro despropósito.
As controversas declarações sobre este tema bem poderiam ter sido evitadas se o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa dedicasse algum tempo aos clássicos de Jorge Fonseca e de Oliveira de Cadornega.
Nestes tempos em que o “wokismo” à portuguesa jaz em agonia e é amplamente visto como uma fraude, o nosso Presidente tem essa lamentável revelação na Estrada de Damasco.
Marcelo Rebelo de Sousa faz nada manos do que uma acusação inflexível e generalizada a todo um povo, nas garras de uma franja de extrema-esquerda insignificante apegada a modismos cosmopolitas.
É incrível como uma dose excessiva de Fortimel pode afetar o discernimento de uma pessoa.
Bem, esperemos sinceramente que a coisa não piore.
É, aliás, bem conhecido o triste episódio de Paul Deschanel, em França, cuja breve presidência de 1920 terminou abruptamente em desgraça após um episódio noturno no qual desapareceu do comboio presidencial, sendo encontrado horas depois, errante e confuso, vagando por campos vestindo um pijama às riscas.
É que, ao contrário do que se pretende fazer crer, as relações entre o povo português e as nações que outrora foram colónias de Portugal são verdadeiramente notáveis, fundamentadas em respeito mútuo e na celebração de uma história compartilhada.