Ministra acusa Ana Jorge de “total inação” e rejeita saneamento político na Santa Casa

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social acusou a provedora exonerada da Santa Casa de “total inação”, a administração de se beneficiar a si própria e rejeitou a ideia de “saneamento político” na exoneração.

Webpage do Governo de Portugal

 

Em entrevista à RTP, a ministra Maria do Rosário Ramalho afirmou ter “uma fundamentação muito sólida” para a decisão de exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Ana Jorge, assim como a restante mesa (administração) da instituição.

“Já ouvi até que foi um saneamento político. Não foi nada”, garantiu a ministra, que justificou a demissão de Ana Jorge “por razões de gestão”, acusando-a de “total inação” face à situação de crise financeira que herdou da anterior administração, reiterando o que o Governo já havia afirmando no comunicado relativo à exoneração sobre a inexistência de um plano de reestruturação.

“A conversa que tivemos não evidenciou nenhum sentido de urgência face à situação que existia”, disse Maria do Rosário Ramalho, insistindo que “não havia nada” e que desde a tomada de posse Ana Jorge “não fez nada” para melhorar inverter a situação financeira.

A ministra afirmou que “não nos passava pela cabeça [do Governo], que não tivesse um plano de reestruturação financeira” ou que “tivesse aumentado despesas com pessoal”, referindo que apenas foram cortadas despesas com 19 dirigentes, que perderam esses cargos e os suplementos a eles associados, mas se mantiveram na instituição, tendo, por outro lado, sublinhando a decisão da mesa em aumentar os seus próprios salários.

“Os da mesa até foram aumentados. Estranhámos. (…) beneficiaram-se a si próprios, não, de todo, as pessoas que estão na operação”, criticou a ministra, que referiu que a maioria dos trabalhadores na SCML ganha o salário mínimo.

Sobre as acusações de “calúnia e má-fé” feitas por Ana Jorge sobre as justificações para a exoneração da mesa da SCML, Maria do Rosário Ramalho disse que acha isso “muito estranho”, elencando uma sucessão de acontecimentos até ao momento da demissão, como a inexistência de um relatório sobre medidas a tomar ou de resposta a um conjunto de “perguntas muito básicas” colocadas pela tutela e às quais Ana Jorge nunca terá respondido.

Apontando “falhas de comunicação”, a ministra disse ter perdido a confiança na provedora exonerada, “absolutamente”, pelo que tomou a decisão de exoneração “nos fundamentos da lei”.

Rejeitou, no entanto, que esteja prevista qualquer ação criminal contra a ação de Ana Jorge à frente da SCML, frisando que o que a preocupa “é a gestão” e que a decisão tomada assenta nos dados recolhidos pelo Governo, que a ministra não quis detalhar antes de os dar a conhecer aos deputados, na audição parlamentar.

Maria do Rosário Ramalho rejeitou as alegações de saneamento político apontadas ao Governo na exoneração de Ana Jorge, que se mantém no cargo em gestão corrente até ser substituída no cargo, como “é obrigação de qualquer pessoa que exerce funções públicas”.

O processo de substituição de Ana Jorge “é urgente, mas não é precipitado”, garantiu a ministra.

“Se fosse um saneamento político eu já teria quatro ou cinco pessoas para por lá”, acrescentou a governante, que adiantou que o Governo procura “um perfil financeiro” para o sucessor, não dando como certo que possa ser encontrado dentro de um dos partidos da coligação, mas não o descartando: “Há financeiros muito bons em todos os partidos”.

A ministra frisou que o Governo pretende “uma mudança de orientação” para o cargo.

“Podemos estar aqui perante o perigo total da operação da SCML este ano e este perigo infelizmente intensificou-se ao longo do último ano. A SCML só não teve prejuízos este ano porque houve uma injeção do Estado”, disse, acrescentando que a dívida de 50 milhões de euros da SCML já não existe.

Ana Jorge tomou posse em 02 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.

Depois da sua exoneração, a provedora escreveu uma carta a todos os trabalhadores da SCML, na qual acusava o Governo de a ter exonerado de “forma rude, sobranceira e caluniosa” e que foi apanhada de surpresa.

Últimas de Política Nacional

Cinco deputados sociais-democratas, liderados por Hugo Soares, viajaram até Pequim a convite direto do Partido Comunista Chinês. A deslocação não teve carácter parlamentar e escapou às regras de escrutínio da Assembleia da República.
Saiu do Executivo, passou pelo Parlamento e acaba agora a liderar uma empresa pública com um vencimento superior ao que tinha no Governo. Cristina Vaz Tomé foi escolhida para presidir à Metro de Lisboa e vai ganhar cerca de sete mil euros mensais, com despesas da casa pagas.
O Ministério Público (MP) pediu hoje penas entre os cinco e nove anos de prisão para os ex-presidentes da Câmara de Espinho, Miguel Reis (PS) e Pinto Moreira (PSD), por suspeitas de corrupção no processo Vórtex.
O presidente do CHEGA, André Ventura, anunciou hoje que o seu partido votará contra o novo pacote laboral no parlamento se o Governo não ceder em matérias como o despedimentos e alterações na área da parentalidade.
A mensagem gerou indignação, o caso abalou o ministério e levou a uma demissão, mas o inquérito interno concluiu que não houve infração disciplinar. Nataniel Araújo sai ilibado e continua como chefe de gabinete da Agricultura.
Os vereadores e deputados municipais do CHEGA têm rejeitado a criação da Comunidade Intermunicipal da Península de Setúbal.
Bruxelas paga, Lisboa faz campanha: Ângelo Pereira (PSD) e Ricardo Pais Oliveira (IL) estiveram no terreno eleitoral enquanto recebiam vencimentos do Parlamento Europeu, prática proibida pelas regras comunitárias.
A comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao INEM decidiu hoje suspender os trabalhos durante o período de Natal e Ano Novo e na segunda semana de janeiro, devido às eleições presidenciais.
Num mês em que as presidenciais já se travavam mais nos ecrãs do que nas ruas, André Ventura esmagou a concorrência: foi o candidato que mais apareceu, mais falou e mais minutos ocupou nos principais noticiários nacionais.
O Ministério da Saúde voltou a entregar um contrato milionário sem concurso: 492 mil euros atribuídos diretamente ao ex-ministro social-democrata Rui Medeiros, aumentando a lista de adjudicações diretas que colocam a Saúde no centro da polémica.