Portugal torna-se ‘hotspot’ europeu do narcotráfico

Em 2024, Portugal bateu um recorde histórico ao apreender 22,5 toneladas de cocaína, mais do que o dobro do volume registado em 2019. O país reforça assim o seu papel estratégico no tráfico europeu, beneficiando da localização privilegiada de portos como Sines, Lisboa e Leixões.

© DR

Portugal fechou 2024 com um feito digno de registo: o maior volume de cocaína apreendido na sua história — 22,5 toneladas. Um número que faria corar de inveja alguns dos maiores portos da Europa e que representa mais do dobro das 9,5 toneladas confiscadas em 2019. Os dados divulgados pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ), aos quais o InSight Crime teve acesso, confirmam que o país mantém um papel de destaque nas rotas internacionais do narcotráfico — um estatuto que, convenhamos, poucos desejarão ver inscrito em brochuras turísticas.

A geografia ajuda: entre o Atlântico e a Europa, com portos como Sines, Lisboa e Leixões, Portugal é a paragem ideal para quem quer fazer escala entre a América do Sul e o Velho Continente. Fontes da PJ garantem que o aumento das apreensões é sinal de eficiência, e não apenas de maior movimento. O argumento é plausível, ainda que as redes criminosas também tenham contribuído, ao trocar os congestionados portos de Roterdão e Antuérpia — onde a segurança apertou — por destinos mais “acolhedores”.

“Há sempre um efeito de deslocação”, explica Sjoerd Top, diretor do Maritime Analysis and Operations Centre (Narcotics). Em bom português: fecha-se uma porta na Holanda, abre-se um contentor em Portugal.

Especialistas sublinham que o país já não é apenas um corredor de passagem, mas também um armazém e ponto de distribuição de substâncias ilícitas. “O aumento das apreensões reflete não só a alta produção global, mas também o crescente número de grupos criminosos ativos no mercado europeu”, observa Sylvie Isabelle Figueiredo, do IPRI-NOVA. Ou seja, estamos cada vez mais “integrados” na economia global — mesmo que seja a paralela.

“Portugal não pode continuar a ser a porta de entrada da droga na Europa. O que vemos é um Estado fraco, incapaz de travar o crime organizado que se infiltra na nossa economia e destrói comunidades inteiras.”

As afinidades linguísticas com o Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau, habitualmente celebradas como pontes culturais, também facilitam o trânsito de mercadorias menos nobres. A Polícia Judiciária reconhece movimentações associadas à lavagem de dinheiro, nomeadamente em setores tão imaculados como o imobiliário e o futebol. O nome do Primeiro Comando da Capital (PCC), o maior grupo criminoso do Brasil, surge nas investigações, embora Artur Vaz, diretor da UNCTE, garanta que não há provas de domínio efetivo da organização em Portugal — apenas “indícios”, palavra que, neste contexto, diz quase tudo.

O partido CHEGA reagiu aos dados com críticas duras ao Governo e às autoridades europeias, exigindo políticas de segurança mais rigorosas e um controlo mais apertado das fronteiras marítimas e aéreas.

Em declarações aos jornalistas, André Ventura, presidente do partido, afirmou: “Portugal não pode continuar a ser a porta de entrada da droga na Europa. O que vemos é um Estado fraco, incapaz de travar o crime organizado que se infiltra na nossa economia e destrói comunidades inteiras.”

Ventura defendeu ainda o reforço das penas para tráfico de droga, maior investimento em meios navais da Marinha e da PJ e cooperação mais estreita com as autoridades brasileiras.

“Enquanto os criminosos enriquecem, o Governo continua a fechar os olhos. É preciso acabar com esta complacência e devolver segurança aos portugueses”, acrescentou o líder do CHEGA.

Últimas do País

A Associação Sindical dos Profissionais do Corpo da Guarda Prisional (ASPCGP) convocou para esta terça-feira o primeiro de quatro dias de greve para exigir investimento na carreira, criticando a “falta de visão estratégica” da tutela e o recente acordo.
A Capitania do Porto do Funchal acaba de acompanhar o IPMA no que toca à emissão de avisos à navegação e aos cidadãos no que toca à agitação marítima forte e aos cuidados na orça costeira do Arquipélago da Madeira. Um aviso em vigor, pelo menos, até às 06h00 de amanhã, 16 de Dezembro, mas que deverá ser prolongado, tendo em conta o período de vigência do aviso do IPMA.
Uma equipa da Comissão Europeia está entre hoje e quarta-feira em Lisboa para realizar uma avaliação "sem pré-aviso" às condições de segurança nas fronteiras áreas e marítimas portuguesas, avançou à Lusa o Sistema de Segurança Interna (SSI).
A procura das urgências hospitalares, do SNS 24 e do INEM aumentou entre 1 e 7 de dezembro, impulsionada pelo aumento de casos de gripe e infeções respiratórias, que atingiram níveis superiores aos de épocas anteriores, segundo a DGS.
O número de focos de gripe das aves em Portugal desde o início do ano subiu para 50, após terem sido confirmados mais quatro nos distritos de Santarém, Faro e Leiria, indicou a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
O Tribunal Constitucional (TC) declarou hoje inconstitucionais normas do decreto do parlamento que revê a Lei da Nacionalidade e de outro que cria a perda de nacionalidade como pena acessória no Código Penal.
O Hospital Curry Cabral, em Lisboa, realizou o primeiro transplante renal realizado integralmente por cirurgia robótica em Portugal, com o pai a doar o rim à filha, estando ambos a recuperar bem, anunciou hoje a ULS São José.
Portugal voltou a perder população para o estrangeiro. Depois da pandemia, a emigração acelerou e atingiu em 2023 o valor mais elevado dos últimos cinco anos, confirmando que milhares de portugueses continuam a procurar fora do país aquilo que não encontram cá dentro: trabalho, estabilidade e oportunidades.
Os Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) rejeitam as críticas que lhes foram dirigidas no fim de semana pelo presidente do INEM, lembram que sempre estiveram "na linha da frente" e que ignorar estes profissionais é "desperdiçar conhecimento".
Seis distritos de Portugal continental vão estar sob aviso laranja, o segundo mais elevado, entre terça e quarta-feira, devido a agitação marítima, anunciou hoje o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).