CTI ou CPI, e tudo os incêndios levou…

Os Incêndios, em Portugal, são mais do que uma tragédia cíclica: são um espelho do que corre mal no Estado. Cada vez que o país arde, não se queimam apenas hectares de floresta ou casas de famílias que nunca recuperarão; arde também a confiança dos cidadãos nas instituições.

Recentemente, a disputa entre Comissão Técnica Independente (CTI) e Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) reabriu o debate: afinal, o que teme o Partido Socialista e o Partido Social Democrata? Porque insistem, ano após ano, em controlar a forma como se investigam tragédias que marcam a nossa memória coletiva?
O PS e o PSD sabem que uma CPI dá palco político, abre feridas, expõe responsabilidades e, muitas vezes, deixa cair máscaras de interesses instalados.

O medo de ambos é sempre o mesmo: que se exponham as redes de responsabilidade política e económica que atravessam governos, sejam eles rosa ou laranja. Ninguém quer carregar sozinho o peso de uma herança de décadas, onde decisões erradas e omissões custaram vidas humanas.

É bem plausível que as responsabilidades governativas diretas: ministros, secretários de Estado, altos dirigentes que tomaram decisões que falharam no terreno estão a olho nu, só não vê quem não quer… realmente, o velho ditado popular aplica-se muito bem, de que em “terra de cegos quem tem olho é rei” é bem notória.
Uma CPI poderia obrigar à nomeação de culpados com nomes e apelidos. Uma CTI, pelo contrário, descreve falhas sistémicas sem acusar diretamente quem as perpetua.

Do drama de Pedrógão Grande, em 2017, ao verão negro de 2018, passando por episódios mais recentes em 2025, a máquina do Estado revelou a sua incapacidade de resposta, havendo sempre a mesma pergunta sem resposta: quem falhou e porquê?
O que se protege e quem se protege, não são apenas casos isolados, mas sim uma cultura de irresponsabilidade política crónica. Protege-se a ideia de que “a culpa morre solteira”. Protege-se a alternância PS-PSD como se fosse uma alternância de inocentes, quando na verdade ambos carregam o fardo de responsabilidades históricas na gestão da floresta, no ordenamento do território e no combate aos incêndios.

Ao preferirem a CTI à CPI, PS e PSD procuram o conforto do relatório técnico que se lê em meia dúzia de dias e que, no fim, serve para “aprender lições” que ninguém aplicará. Evitam o barulho político, evitam manchetes comprometedoras, evitam nomes próprios a arder nas páginas dos jornais.

Mas o país já percebeu: enquanto se escolhe entre CTI ou CPI, o fogo consome o que resta de confiança dos cidadãos.

Artigos do mesmo autor

Numa altura em que o país clama por transparência e rigor fiscal, o Orçamento do Estado para 2026 surge como um monumento à ilusão e à manipulação. O Governo, embalado em promessas de excedente, ignora os alertas estridentes do Conselho das Finanças Públicas e até do Presidente do Tribunal Constitucional, que, num gesto inédito, pediu […]

No dia 15 de outubro de 2017, o Distrito de Coimbra viveu uma das maiores tragédias da sua história recente. As chamas consumiram vidas, lares e empresas, deixando um rasto de dor e desolação que o tempo não apaga das suas memórias. Hoje, oito anos depois, lembramos com profundo pesar todas as vítimas humanas, os […]

A decisão da Associação Académica de Coimbra (AAC) em excluir o Partido CHEGA das reuniões de preparação para as eleições autárquicas de 2025 é, no mínimo, um ato profundamente lamentável. Mais do que uma afronta ao nosso Partido, esta posição revela uma perigosa deriva antidemocrática numa instituição que deveria pautar-se pela pluralidade, pelo debate de […]

A Segurança Social nasceu para ser o pilar fundamental do Estado Social português, no entanto, vive-se uma crise silenciosa nunca outrora vista. Criada para proteger os cidadãos portugueses em momentos de vulnerabilidade, tornou-se, nas últimas décadas, numa estrutura financeiramente pressionada por uma crescente subsidiodependência e pela incapacidade de responder, com dignidade, à totalidade das necessidades da população.

Num sistema democrático maduro, a representatividade no parlamento deve refletir não apenas as diversas opiniões políticas da sociedade, mas também a sua pluralidade profissional existente. No atual contexto do partido político CHEGA, que se apresenta nesta legislatura como a 2.ª Força Política, o processo atual de reforma e crítica do sistema tradicional, a eleição de […]