Para infortúnio nosso, a Democracia portuguesa nunca foi conhecida pela sua capacidade de analisar e resolver os desafios com que o país se tem confrontado desde o colapso do Estado Novo. De certa forma, somos e temos sido uma Democracia imperfeita, e, pior do que isso, uma Democracia imatura, que tem estado muito mais vocacionada para a criação de ricos do que para a criação de riqueza e muito mais refém de redes de interesses e compadrio do que orientada para o Bem Comum. Pese embora esta situação, nos últimos meses, a classe governativa e os titulares dos órgãos de soberania têm contribuído de forma sem precedente para a destruição do pouco que resta do normal funcionamento das instituições da República, dando circo de baixíssimo nível a um Povo que precisa de pão, agudizando ruídos em vez de serenar os ânimos e encenando teatros com tons tão altos de leviandade política que cobrem de náusea o sentido de Estado.
Em conjunto, o que temos visto e ouvido de Marcelo, Costa e uns tantos ministros que, em estados variáveis de putrefação pública, parasitam o elenco governativo, comprova que o país dos políticos, onde todas essas figuras estão incluídas, continua a léguas do país real, onde vivem e trabalham portugueses de bem, que, com os seus impostos, alimentam, a avidez de jogos de influência, engendrados nos bastidores da política sem escrúpulos, onde, longe das reais necessidades dos cidadãos, quase todos ganham, menos a Democracia. Por muito que já nada disto nos surpreenda, há uma pergunta que fica sem resposta: Esta gente com tantas culpas na deriva do país dorme bem à noite?
Porque existe um desejo inquebrável por um país melhor que ainda não foi derrotado por aquilo que nos caiu no prato e uma cidadania que ainda não foi anestesiada e uma determinação que ainda não se rendeu à mediocridade, é crucial que continuemos a pensar sobre o país que queremos realizar, pois apenas com uma noção clara de onde queremos chegar seremos merecedores da confiança daqueles que estão fartos das derrapagens nos orçamentos, das injecções de capital na banca e na TAP, das chorudas indemnizações, dos bónus a gestores corruptos, dos empregos para a família e da falta de seriedade com que a Causa Pública é gerida. Conscientes disso, há três noções que, cada vez mais, se apresentam como pilares para o futuro de Portugal.
Primeiro, a defesa intransigente da Identidade Nacional, não só como fonte de orgulho na nossa língua, cultura e História, patrimónios intemporais que nos dão projecção global, mas também como garante da nossa integridade, harmonia social e liberdades, as quais estão acima de quaisquer sectarismos. Como tal, a Identidade Nacional nunca poderá estar sujeita ao marxismo cultural que procura reescrever o nosso passado, nem ao socialismo tóxico que quer dilacerar o quadro de Valores e Princípios que definem a nossa sociedade há muitos séculos.
Segundo, a aposta na família, que é o centro do desenvolvimento social e do processo formativo das gerações, assim como o principal garante de um país equilibrado, humano e justo. Como tal, urge criar condições que permitam às famílias encarar o futuro com confiança, não só nas perspectivas económica e fiscal, mas também dentro de um quadro de valores que respeite a sua existência, protegendo-as das visões pérfidas que procuram sexualizar a infância, aluir a sacralização dos sentimentos e demolir o equilíbrio das comunidades.
Terceiro, libertar o país, nomeadamente os processos de representação pública e de tomada de decisões, do poder das oligarquias partidárias e da corrupção que se enquistou. Para todos os efeitos, todo o aparelho do Estado tem de estar ao serviço das pessoas e todo o poder político tem de nelas ter o seu primeiro e mais importante fim. Por muito incómodo que tais princípios possam causar a quem faz carreira defendendo o ridículo e a desonestidade, o caminho é claro e a hora está a chegar.