EUA consideram “não vinculativa” resolução do Conselho de Segurança sobre Gaza

O Governo norte-americano considerou hoje que a resolução adotada pelo Conselho de Segurança da ONU a exigir um cessar-fogo em Gaza “não é vinculativa”, apesar de vários diplomatas garantirem o contrário.

© Facebook de Linda Thomas-Greenfield

Esta interpretação, explorada pela primeira vez pela embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, durante a sessão de hoje do Conselho de Segurança, foi posteriormente acolhida por vários altos funcionários do Governo de Joe Biden.

Questionado durante uma conferência de imprensa se acredita que Israel anunciará um cessar-fogo como resultado da resolução, o porta-voz diplomático dos EUA, Matthew Miller, negou.

“É uma resolução não vinculativa”, acrescentou.

Miller não deu mais explicações sobre esta posição adotada pelos Estados Unidos, contrariando a consideração geral de que as resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança são vinculativas.

“Consideramos que a resolução não é vinculativa”, insistiu quando pressionado.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, manteve essa mesma posição durante uma conferência de imprensa na Casa Branca: “É uma resolução não vinculativa, por isso não tem impacto sobre Israel ou na sua capacidade de continuar a lutar contra o Hamas”.

Tal como Miller, Kirby também não forneceu uma explicação jurídica para a razão pela qual os Estados Unidos consideram esta resolução específica como não vinculativa.

Contudo, apesar da posição norte-americana, vários diplomatas das Nações Unidas confirmaram que se trata de uma resolução vinculativa, como é o caso dos embaixadores de Moçambique e da Serra Leoa, ambos com formação jurídica.

“Ao abrigo da Carta da ONU, todas as resolução do Conselho de Segurança da ONU são vinculativas e obrigatórias e todos os Estados-membros estão obrigados a implementar essas resoluções. (…) Eu fui membro da Comissão de Direito Internacional [um órgão responsável por ajudar a desenvolver e codificar o direito internacional] durante 15 anos e sei o que estou a dizer”, afirmou o representante de Moçambique junto da ONU, Pedro Comissário Afonso.

“Seguindo a visão do representante permanente de Moçambique, que foi membro e presidente da Comissão de Direito Internacional, e sendo eu próprio um advogado e fazendo parte do Sexto Comité [principal fórum para a consideração de questões jurídicas na Assembleia Geral da ONU] há mais de cinco anos, direi que é vinculativa. Não são apenas as minhas palavras. São também as palavras do Tribunal Internacional de Justiça (…) Logo, acho que deveria ser claro para todos que esta resolução é vinculativa para as partes”, salientou o embaixador da Serra Leoa, Michael Imran Kanu.

A resolução, aprovada com 14 votos a favor e uma abstenção – a dos Estados Unidos – exige “um cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza durante o período do Ramadão.

A exigência de um cessar-fogo não está condicionada a outras ações, mas o texto também apela à libertação dos reféns detidos pelo Hamas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, aplaudiu a aprovação da resolução do Conselho de Segurança e defendeu a aplicação da mesma, argumentando que o seu “fracasso seria imperdoável”.

O facto de os Estados Unidos terem permitido que a resolução fosse aprovada com a sua abstenção, após terem vetado várias tentativas, provocou a ira do Governo de Israel e, em particular, do seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, em visita oficial a Washington, disse após a aprovação que o seu país não iria parar a guerra: “Moralmente, não temos o direito de parar a guerra enquanto ainda houver reféns detidos em Gaza”.

“Operaremos contra o Hamas em todo o lado, mesmo em locais onde ainda não estivemos”, acrescentou, sem mencionar diretamente Rafah, onde mais de um milhão de pessoas se refugiam e que constitui um importante ponto de atrito entre Washington e Israel.

Últimas de Política Internacional

O chanceler alemão pediu hoje à União Europeias (UE) um acordo comercial rápido e simples com os Estados Unidos, que promova a prioridade a determinadas indústrias chave, seis dias antes do prazo estabelecido pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.
O pré-candidato anunciado às presidenciais brasileiras de 2026 Ronaldo Caiado, governador do estado de Goiás, advertiu hoje as autoridades portuguesas “que não baixem a guarda” contra organizações criminosas brasileiras que estão a instalar-se com força em Portugal.
O Senado dos Estados Unidos (EUA) aprovou hoje o projeto de lei do Presidente Donald Trump, apelidado de "Big Beautiful Bill", sobre as grandes reduções fiscais e cortes na despesa, por uma margem mínima de votos.
O serviço de segurança interna de Israel, Shin Bet, anunciou hoje que desmantelou uma rede do grupo islamita palestiniano Hamas em Hebron, na Cisjordânia ocupada, numa operação conjunta com o Exército e a polícia.
O Governo norte-americano anunciou hoje que vai cortar o financiamento federal para Organizações Não Governamentais (ONG) envolvidas em distúrbios, independentemente do resultado de uma resolução a aprovar no Congresso sobre este assunto.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Mark Rutte, previu hoje "decisões históricas e transformadoras" na cimeira de Haia para alocar 5% do PIB à defesa, visando compensar o "esforço desproporcional" dos Estados Unidos.
O presidente ucraniano deverá pedir mais sanções de Washington contra Moscovo e a aquisição de armamento dos EUA. A reunião deverá começar pelas 13h00 locais (12h00 em Lisboa).
O preço do barril de petróleo Brent para entrega em agosto caiu hoje mais de 5% no mercado de futuros de Londres, depois de Israel ter aceitado o cessar-fogo com o Irão proposto pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, pediu hoje aos aliados europeus que "não se preocupem tanto" com os Estados Unidos da América e se foquem em aumentar o seu investimento em Defesa.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 da União Europeia (UE) discutem hoje os desenvolvimentos na guerra na Ucrânia e a escalada do conflito entre Israel e o Irão, após os bombardeamentos norte-americanos contra várias instalações nucleares iranianas.