Associações alertam para necessidade de canais para denúncias de assédio

Duas associações portuguesas ligadas ao cinema, audiovisual e artes performativas alertaram hoje, em declarações à agência Lusa, para a necessidade de existência de canais oficiais, apropriados e eficazes para denúncias de abusos e assédio no setor.

© D.R.

“Sabemos que já existem mecanismos que a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho] tem, já existem associações como a APAV [Associação Portuguesa de Apoio à Vítima], que fazem um trabalho muito importante, mas penso que seria importante que a Cultura tivesse, dadas as especificidades do setor, se não um canal próprio, pelo menos uma ligação com canais que viessem a ser criados”, afirmou à Lusa a investigadora Mariana Liz, da direção da Associação Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento (MUTIM).

A propósito das denúncias recentes de assédio e agressão sexual na área da música, Mariana Liz considerou que “revelam grande coragem” e que qualquer crime deve ser denunciado às autoridades competentes.

No caso do setor do cinema e audiovisual, a MUTIM está “a pensar nos próximos passos, a estudar medidas possíveis para que possa ajudar eventuais vítimas”.

Em setembro, a associação já tinha revelado à agência Lusa que está a preparar um manual de boas práticas e de prevenção e combate ao assédio no setor, que pretende publicar no primeiro semestre de 2025, e que está aberta a receber denúncias e a ser mediadora.

“Estamos a pensar se faria sentido adotar um modelo que já existe em França, em que foi criado um canal de denúncias oficial para o mundo das artes e da cultura, que tem até o apoio do Ministério da Cultura francês e que já faz esse acompanhamento. Em Portugal poderia começar a ter-se uma conversa parecida. Sabemos que a maior parte dos trabalhadores são precários, não beneficiam de canais de denúncias”, sustentou a investigadora.

Para a associação, era importante que a Cultura “se posicionasse” sobre esta matéria.

“Estamos atentas e disponíveis para acompanhar alguém que queira fazer uma denúncia. Este é o momento da urgência. Mas a outra esfera de ação vai demorar mais tempo. Queremos que haja mudanças estruturais”, disse Mariana Liz.

Desde a semana passada vieram a público, através da partilha de testemunhos nas redes sociais, denúncias de casos de violação, abuso sexual e assédio no meio artístico, nomeadamente na área da música, em particular no jazz.

A primeira denúncia foi feita pela DJ Liliana Cunha, que assina com o nome artístico Tágide, identificando o pianista de jazz João Pedro Coelho como o alegado agressor. O pianista refutou as acusações e reclamou “total inocência”, numa publicação no Instagram.

Nas denúncias de assédio, abuso, violação e agressão, partilhadas ao longo da última semana, já foram identificadas 27 pessoas do meio artístico, a larga maioria da área da música.

Este dado foi revelado na quinta-feira à Lusa pela artista Maia Balduz que, juntamente com Liliana Cunha, tem estado a reunir, verificar e filtrar as denúncias e testemunhos que ambas têm recebido.

As denúncias têm chegado através das redes sociais e de um ’email’ (testemunhasdamusica@proton.me) que ambas criaram, e nem os nomes de vítimas, que são maioritariamente mulheres – mas também há homens – nem as alegadas situações serão expostas, “a menos que alguma queira chegar-se à frente”.

Também a Associação para as Artes Performativas em Portugal (Performart) encara “com imensa preocupação todo e qualquer caso de assédio laboral e ainda mais assédios sexuais em contexto laboral”, como afirmou à Lusa Inês Maia, da estrutura cultural Pé de Cabra que preside à direção da Performart.

“Estes processos devem ser investigados, devem seguir os canais legais de investigação, e depois devem ser avaliados pelo sistema judicial. É isto que tem de acontecer. (…) Têm de ser tratados com rigor, são muitíssimos graves e por isso não podem ser discutidos e tratados sem o devido enquadramento”, reforçou.

Para a Performart, se “as pessoas estão a tentar recorrer a grupos anónimos, de denúncia, é porque alguma coisa falta”.

“Parece-me claro que a criação de grupos de denúncia pode significar uma ausência de recursos e canais apropriados e eficazes para o fazer”, disse Inês Maia.

Entre as 14 instituições fundadoras da Performart estão entidades como o Instituto Politécnico do Porto, as fundações Casa da Música, Serralves e Centro Cultural de Belém, a Companhia de Teatro de Almada e os teatros nacionais D. Maria II e São João.

Últimas do País

Dez pessoas, entre as quais cinco crianças, foram hoje feridas sem gravidade por intoxicação por monóxido de carbono numa habitação nos arredores de Coimbra, disse fonte dos bombeiros.
Doze pessoas morreram e 433 pessoas foram detidas por conduçãoem sob efeito de álcool entre 18 e 24 de dezembro, no âmbito da operação de Natal e Ano novo, anunciaram hoje em comunicado a GNR e PSP.
Os doentes classificados como urgentes no hospital Amadora-Sintra enfrentam hoje tempos de espera de mais de 11 horas para a primeira observação nas urgências gerais, segundo dados do portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Álvaro Almeida, estimou hoje que há cerca de 2.800 internamentos indevidos nos hospitais, quer devido a situações sociais, quer a falta de camas nos cuidados continuados.
O quinto dia de greve dos guardas prisionais, convocada pela Associação Sindical dos Profissionais do Corpo da Guarda Prisional (ASPCGP), está a ter uma adesão que ronda os 80%, adiantou hoje a estrutura representativa.
Os trabalhadores das empresas de distribuição cumprem hoje um dia de greve, reivindicando aumentos salariais e valorização profissional, e voltam a parar no final do ano.
Dois agentes da PSP acabaram no hospital após serem atacados durante uma ocorrência num supermercado. Agressores fugiram e estão a monte.
Um homem é suspeito de ter matado hoje uma criança de 13 anos, morrendo de seguida numa explosão alegadamente provocada por si numa habitação em Casais, Tomar, num caso de suposta violência doméstica, informou a GNR.
O tribunal arbitral decretou hoje serviços mínimos a assegurar durante a greve dos trabalhadores da SPdH/Menzies, antiga Groundforce, marcada para 31 de dezembro e 1 de janeiro, nos aeroportos nacionais.
O Ministério da Administração Interna (MAI) disse hoje que foi registada uma diminuição das filas e do tempo de espera no aeroporto de Lisboa e que todos os postos têm agentes da PSP em permanência.