Jean-Marie Le Pen, o último dos moicanos

Figura incontornável da política francesa, tão polémico como corajoso, Jean-Marie Le Pen morreu aos 96 anos.

Fiel às suas origens, Jean-Marie Le Pen gostava de recordar que o seu apelido significava «chefe» em bretão e, depois de o sabermos, é irónico ouvir os seus inimigos e detractores a tratarem-no assim. Homem inteligente e político ardiloso, tinha também a ironia como característica que, amiúde, usava como arma nos confrontos verbais.

O seu percurso foi tão difícil como formidável, das origens humildes até ser eleito deputado com apenas 27 anos, da experiência de combate como voluntário, à difícil construção do Front National (FN), a partir de 1972, partido com o qual se confundiu, até chegar à segunda volta das eleições presidenciais, 30 anos depois, perante a estupefacção geral. Gerou paixões e ódios, sofreu ataques políticos, pessoais e à sua família, mas nunca desistiu.

A imprensa ansiava pelas suas «derrapagens», mas Le Pen era capaz de juntar a erudição à truculência numa eloquência combativa. Sem surpresa, tornou-se um fenómeno mediático e uma importante figura política em França e na Europa. O seu exemplo foi precursor e inspirador para muitos movimentos e partidos europeus.

É assim fácil de entender porque é que um homem que vivera a guerra e a luta política com os maiores do seu tempo olhava para os políticos actuais como um gigante para um bando de anões. Em 1997, no Libération, Jean Baudrillard escreveu que «o único discurso político em França, actualmente, é o de Le Pen. Todos os outros são morais e pedagógicos, a retórica dos professores e conferencistas, dos gestores e programadores».

Cometeu erros e exageros, foi intransigente, provocador e agressivo, mas defendeu sempre a sua França, o seu povo e a sua civilização. Foi um eterno resistente.

Há um cartaz icónico dos anos 90 do século passado, feito pela Juventude do FN, onde sobre um Le Pen sorridente com as penas de chefe índio na cabeça se lê: «Saiamos da nossa reserva!» A imagem icónica era tão atractiva como intrigante. Afinal, seriam os franceses os novos peles-vermelhas?

No segundo volume das suas memórias, Jean-Marie Le Pen escreveu que nelas quis «dizer a nossa verdade» e afirmou-se como «o tribuno de uma tribo que desaparece, o último dos moicanos franceses». Para ele, a «reserva» dos franceses era «o silêncio» e descrevia a condição dos seus compatriotas hoje: «Nós temos ainda o direito de existir, de viver, ou antes de sobreviver, mas esta tolerância vitalícia é acompanhada por uma condição: nós devemos calar-nos, não aparecer no país visível que substituiu o país real. Somos apenas tolerados enquanto não existirmos oficialmente.» Nesse silêncio ensurdecedor, Le Pen foi o grito da resistência.

Especialistas na caricatura enganadora, os seus inimigos lembrarão todos os seus defeitos e mais alguns, mas pouco importam, porque estes não passam de um detalhe na sua vida de dedicação extraordinária à defesa da sua pátria e, especialmente, no seu papel mais importante. Demonstrando uma intuição notável, Le Pen anteviu a submersão migratória e as suas consequências catastróficas para a França e para a Europa, para de seguida denunciar o mundialismo que destrói as pátrias.

Como Cassandra, Jean-Marie Le Pen foi o profeta em quem ninguém acreditou, mas que alertou para a ameaça vital à Europa que hoje é o desafio fundamental que enfrentamos: a imigração em massa. Mas pelo seu exemplo e tenacidade, bem como pela sua firmeza e longevidade, mostrou que nada está perdido à partida e que perante o fatalismo derrotista é preciso recordar que onde há uma vontade, há um caminho.

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