Media portugueses acentuam xenofobia e discriminação de imigrantes

Os autores do Barómetro da Imigração, apresentado recentemente, consideram que os media em Portugal estão a acentuar a má imagem dos imigrantes, com a repetição de estereótipos que mostram um país vítima de uma invasão.

© Folha Nacional

O inquérito alargado da Fundação Francisco Manuel dos Santos foi apresentado em dezembro e os seus autores, em entrevista hoje à Lusa, consideram que os media são corresponsáveis da má imagem dos imigrantes em Portugal, uma das conclusões do próprio estudo.

Exemplo disso é a visibilidade mediática dada a uma rixa numa zona de Lisboa no domingo, que causou apenas feridos ligeiros entre a comunidade do Bangladesh, afirmou Rui Costa Lopes, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) de Lisboa.

“É necessário voltar a recordar sempre os critérios jornalísticos nas tomadas de decisão sobre o que é que faz notícias de capa”, afirmou, considerando que a rixa na rua do Benformoso “não abriria os três telejornais se tivesse sido noutro local ou se tivesse envolvido outras populações, como em Portalegre”, afirmou.

A isso soma-se a “excessiva mediatização” do fenómeno migratório, com “filas enormes de pessoas para obter uma documentação” na sede da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), como se existisse uma “invasão”, em vez de se abordar a “ineficiência dos recursos”, acrescentou.

Pedro Góis, da Universidade de Coimbra, foi mais longe e alerta para a fragilização dessas comunidades, com a “repetição das mesmas imagens, dos mesmos locais e das mesmas pessoas que têm uma cor diferente”, como se a imigração fosse apenas aquela, quando as populações do Bangladesh, Índia ou Nepal são minoritárias no contexto dos imigrantes.

“Se eu procurar sempre os mesmos locais para ilustrar os imigrantes, e são locais muito pouco óbvios para os cidadãos, essa imagem vai funcionar como ‘looping’ na memória e vamos associar os migrantes a esses locais, pode ser à porta da AIMA, da Loja do Cidadão, do Centro de Saúde ou da rua do Benformoso”, em Lisboa, acrescentou.

“A rua do Benformoso não é representativa da imigração no país”, porque “a maioria dos migrantes estão dispersos pelo território nacional e são invisíveis, pelo que não dão boas imagens”, resumiu Pedro Góis.

Em Portugal, “temos outros exemplos de ruas do Benformoso noutras comunidades. O que é a Cova da Moura se não essa representação estereotipada da comunidade cabo-verdiana em Portugal?” – questionou, considerando que os media portugueses promovem a multiculturalidade positiva noutros países mas, em Portugal, contribuem para uma “imagem de multiculturalidade negativa”.

E foi com base na “extrapolação deste estereótipo” e a partir destas imagens mediáticas sobre imigrantes que “muitos portugueses responderam ao nosso barómetro”, mesmo que “vivam em Portalegre e não tenham visto, nos últimos meses, imigrantes”.

Para Pedro Góis, que é também o diretor científico do Observatório das Migrações, é “necessário ter um olhar humano sobre estes seres humanos” e esta visão estereotipada “retira-lhes humanidade”.

Por isso, o próximo inquérito irá focar na imagem que os imigrantes têm do resto da população e o tema da visibilidade mediática será também abordado.

Muitas das declarações racistas ouvidas nos media são também passíveis de ser punidas judicialmente, porque os jornalistas são corresponsáveis da visibilidade no espaço mediático.

Este tema “exige uma autorregulação e eu gostaria muito que essa autorregulação viesse dos próprios jornalistas ou do próprio sistema mediático e não fosse imposta do exterior”, acrescentou o investigador.

Segundo o estudo, apresentado em dezembro, 63% dos inquiridos querem uma diminuição dos imigrantes do subcontinente indiano, 68% dos inquiridos consideram que a “política de imigração em vigor em Portugal é demasiado permissiva em relação à entrada de imigrantes”, 67,4% dizem que contribuem para mais criminalidade e 68,9% consideram que ajudam a manter salários baixos.

Ao mesmo tempo, 68% concordam que os imigrantes “são fundamentais para a economia nacional”.

No mesmo inquérito em que 42% dos inquiridos sobrestima o número de imigrantes em Portugal, a maioria é favorável à atribuição de direitos, como o direito de voto (58,8%), facilitação da naturalização (51,8%) ou dos processos de reagrupamento familiar (77,4%).

Últimas do País

Uma mulher de 49 anos morreu hoje após ter sido “atropelada pelo próprio carro” numa rua de São Domingos de Benfica, na cidade de Lisboa, informou à Lusa fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP).
Proprietário foi raptado por três assaltantes quando fechava o estabelecimento. Vítima foi agredida e obrigada a entregar cartões bancários. Suspeitos estão em fuga.
O Serviço de Medicina Reprodutiva da Unidade Local de Saúde (ULS) da Cova da Beira fez, em 15 anos de atividade, que se assinalam domingo, tratamentos que levaram ao nascimento de mais de 220 bebés.
O tempo médio de espera para doentes urgentes no serviço de urgência do Hospital Amadora-Sintra ultrapassou esta manhã as 10 horas, de acordo com o portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A Web Summit arranca em Lisboa na segunda-feira, com mais de 900 oradores e mais de 70.000 participantes, de acordo com dados da organização, num evento onde a inteligência artificial (IA) continua em destaque.
Um sismo de magnitude 3,8 na escala de Richter foi sentido hoje na ilha açoriana do Faial, informou o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).
Um homem, de 72 anos, morreu hoje durante um assalto à ourivesaria de que era proprietário, em Arraiolos, no distrito de Évora, estando os dois suspeitos do crime em fuga, revelou uma fonte da GNR.
A PSP apreendeu hoje várias armas na Figueira da Foz, que se suspeita que eram usadas por um homem para causar medo à sua companheira, afirmou o Comando Distrital.
Trinta médicos da urgência geral do Hospital Amadora-Sintra alertaram esta sexta-feira para a “situação insustentável” desse serviço, alegando escalas deficitárias que não cumprem os rácios de segurança, avançou o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS).
A greve nacional dos peritos forenses da Polícia Judiciária (PJ) que hoje decorre regista uma adesão a rondar os 80%, segundo o sindicato, que reivindica uma carreira própria e acusa a direção nacional de subalternizar estes profissionais.