Independência dos bancos centrais “está a ser questionada”

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse hoje que a independência dos bancos centrais está a ser questionada em várias partes do mundo, dias depois de o Presidente dos EUA, Donald Trump, criticar a Reserva Federal dos EUA.

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Embora estudos recentes sugiram que a independência “de jure” dos bancos centrais nunca foi tão prevalecente como agora, não há dúvida de que a independência “de facto” dos bancos centrais está a ser questionada em várias partes do mundo”, afirmou a presidente do Banco Central Europeu (BCE) num discurso gravado na conferência Lamfalussy, em Budapeste.

Recentemente, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou o desempenho da Reserva Federal norte-americana (Fed) e do seu presidente, Jerome Powell, afirmando que a política monetária do banco central norte-americano é atualmente demasiado indecisa e que gostaria de ver as taxas de juro baixar “significativamente”.

Lagarde explicou que um estudo que analisou 118 bancos centrais na década de 2010 mostra que cerca de 10% dos bancos centrais enfrentaram pressões políticas, mesmo os bancos centrais com um elevado grau de independência “de jure”.

Outro estudo conclui que, só entre 2018 e 2020, a independência “de facto” dos bancos centrais se deteriorou para quase metade dos bancos centrais em jurisdições que representam 75% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

De acordo com a economista francesa, os dados sugerem que a influência política nas decisões dos bancos centrais também pode contribuir substancialmente para a volatilidade macroeconómica.

“Por exemplo, tem-se observado que a pressão política persistente sobre um banco central afeta o nível e a volatilidade das taxas de câmbio, as taxas de rendibilidade das obrigações e o prémio de risco”, afirmou.

“Ao mesmo tempo, as tensões geopolíticas ameaçam amplificar a volatilidade, aumentando a frequência dos choques que afectam a economia mundial”, acrescentou.

A presidente do BCE recordou que, após a invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022, a volatilidade média do crescimento do produto na zona euro aumentou 60% em comparação com a registada antes da crise financeira mundial, enquanto a volatilidade média da inflação disparou 280%.

Um ambiente mais volátil pode tornar mais difícil a tarefa de manter a estabilidade dos preços, o que pode suscitar preocupações de que os bancos centrais independentes não estão a cumprir os seus mandatos, potencialmente minando o consenso social e ampliando ainda mais a volatilidade da economia.

“A pergunta óbvia é: será que a atual era de volatilidade vai transformar o círculo virtuoso que facilitou a ascensão da independência dos bancos centrais num círculo vicioso que leva ao seu enfraquecimento?”, disse Lagarde, que depois respondeu: “tendo tudo em conta, diria que é pouco provável que isso aconteça”.

Na sua opinião, isso não acontecerá porque, no mundo atual, a independência dos bancos centrais oferece duas vantagens fundamentais: atua como contrapeso à volatilidade nestes tempos imprevisíveis e também contribui para a força regional num mundo cada vez mais definido por rivalidades geopolíticas.

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