Independência dos bancos centrais “está a ser questionada”

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse hoje que a independência dos bancos centrais está a ser questionada em várias partes do mundo, dias depois de o Presidente dos EUA, Donald Trump, criticar a Reserva Federal dos EUA.

©facebook.com/christinelagarde

Embora estudos recentes sugiram que a independência “de jure” dos bancos centrais nunca foi tão prevalecente como agora, não há dúvida de que a independência “de facto” dos bancos centrais está a ser questionada em várias partes do mundo”, afirmou a presidente do Banco Central Europeu (BCE) num discurso gravado na conferência Lamfalussy, em Budapeste.

Recentemente, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou o desempenho da Reserva Federal norte-americana (Fed) e do seu presidente, Jerome Powell, afirmando que a política monetária do banco central norte-americano é atualmente demasiado indecisa e que gostaria de ver as taxas de juro baixar “significativamente”.

Lagarde explicou que um estudo que analisou 118 bancos centrais na década de 2010 mostra que cerca de 10% dos bancos centrais enfrentaram pressões políticas, mesmo os bancos centrais com um elevado grau de independência “de jure”.

Outro estudo conclui que, só entre 2018 e 2020, a independência “de facto” dos bancos centrais se deteriorou para quase metade dos bancos centrais em jurisdições que representam 75% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

De acordo com a economista francesa, os dados sugerem que a influência política nas decisões dos bancos centrais também pode contribuir substancialmente para a volatilidade macroeconómica.

“Por exemplo, tem-se observado que a pressão política persistente sobre um banco central afeta o nível e a volatilidade das taxas de câmbio, as taxas de rendibilidade das obrigações e o prémio de risco”, afirmou.

“Ao mesmo tempo, as tensões geopolíticas ameaçam amplificar a volatilidade, aumentando a frequência dos choques que afectam a economia mundial”, acrescentou.

A presidente do BCE recordou que, após a invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022, a volatilidade média do crescimento do produto na zona euro aumentou 60% em comparação com a registada antes da crise financeira mundial, enquanto a volatilidade média da inflação disparou 280%.

Um ambiente mais volátil pode tornar mais difícil a tarefa de manter a estabilidade dos preços, o que pode suscitar preocupações de que os bancos centrais independentes não estão a cumprir os seus mandatos, potencialmente minando o consenso social e ampliando ainda mais a volatilidade da economia.

“A pergunta óbvia é: será que a atual era de volatilidade vai transformar o círculo virtuoso que facilitou a ascensão da independência dos bancos centrais num círculo vicioso que leva ao seu enfraquecimento?”, disse Lagarde, que depois respondeu: “tendo tudo em conta, diria que é pouco provável que isso aconteça”.

Na sua opinião, isso não acontecerá porque, no mundo atual, a independência dos bancos centrais oferece duas vantagens fundamentais: atua como contrapeso à volatilidade nestes tempos imprevisíveis e também contribui para a força regional num mundo cada vez mais definido por rivalidades geopolíticas.

Últimas de Economia

O indicador de confiança dos consumidores diminuiu em novembro, após dois meses de subidas, enquanto o indicador de clima económico aumentou, divulgou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os gastos do Estado com pensões atingem atualmente 13% do PIB em Portugal, a par de países como a Áustria (14,8%), França (13,8%) e Finlândia (13,7%), indica um relatório da OCDE hoje divulgado.
Os prejuízos das empresas não financeiras do setor empresarial do Estado agravaram-se em 546 milhões de euros em 2024, atingindo 1.312 milhões de euros, com a maioria a apresentar resultados negativos, segundo um relatório do Conselho das Finanças Públicas (CFP).
Os preços dos hotéis na região de Lisboa aumentaram 26,7% na Web Summit, face à semana anterior, para uma média de 151 euros, segundo um estudo da NOVA Information Management School, com dados da Host Intelligence, divulgado hoje.
A Comissão Europeia desembolsou hoje 1,06 mil milhões de euros em subvenções a Portugal, na sequência do seu sétimo pedido de pagamento ao abrigo do Mecanismo de Recuperação e Resiliência.
Os concursos de empreitadas de obras públicas promovidos até outubro aumentaram 56% em número e 31% em valor, em termos homólogos, respetivamente para 6.620 e 9.164 milhões de euros, anunciou hoje a associação setorial AICCOPN.
A Comissão Europeia alertou hoje para “novos desafios” relacionados com a crise habitacional que aumentam os riscos de pobreza e de desigualdade social em Portugal, dado haver mais pessoas com encargos excessivos de habitação.
A Comissão Europeia alertou hoje que Portugal "corre o risco de exceder significativamente" o teto máximo para despesas líquidas definido ao abrigo do plano de médio prazo, embora falando numa situação orçamental "próxima do equilíbrio" em 2026.
Portugal exportou até setembro 53,3 milhões de pares de sapatos no valor de 1.321,7 milhões de euros, mais 3,8% em quantidade e 2,1% em valor face ao período homólogo, anunciou hoje a associação setorial.
O valor mediano de avaliação bancária na habitação foi 2.025 euros por metro quadrado em outubro, mais 17,7% do que no mesmo mês de 2024, disse hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).