Cartões de crédito antigos com juros acima do máximo do BdP agravam endividamento

Consumidores com cartões de crédito anteriores a 2010 estão a pagar juros superiores aos valores máximos definidos pelo Banco de Portugal, o que segundo a Deco agrava e prolonga muitas situações de endividamento.

© LUSA/CARLOS M. ALMEIDA

Segundo o Banco de Portugal (BdP), em dezembro de 2024 (último mês disponível) estavam ativos oito milhões de cartões de crédito. Contudo, o supervisor não tem dados sobre quantos destes cartões são anteriores a 2010 e não estão vinculados ao regime das taxas máximas.

A coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Deco, Natália Nunes, disse à Lusa que quando são contactados por consumidores devido às dificuldades financeiros, e analisam os casos, concluem que um dos problemas mais graves é que pagam juros elevados pelos cartões de crédito, muitas vezes porque são cartões contratados antes do regime das taxas máximas (que entrou em vigor em 01 de janeiro de 2010).

A Deco disse que é frequente situações de clientes com taxa de juro no cartão de crédito superior a 30% e partilhou o exemplo de um consumidor que tem um cartão há mais de 15 anos com uma taxa de 31,9% e que contactou a associação questionando como podia o banco cobrar esse juro quando naquele período o Banco de Portugal tinha estabelecido como máximo uma taxa de 19,1%.

Tal é permitido porque a pessoa tem um cartão anterior a 2010 e a legislação que define as taxas máximas não se aplica a cartões contratados antes dessa data.

“Este caso ilustra como este problema não é devidamente reconhecido pelos consumidores. O desconhecimento sobre as taxas aplicáveis e os encargos associados acaba por agravar o custo do crédito e prolongar situações de endividamento”, afirmou Natália Nunes.

Mas mesmo consumidores que têm noção desta diferença enfrentam dificuldades. Isto porque, para terminar o contrato antigo, precisam de pagar na totalidade o que devem (capital, juros e comissões), sendo que o valor que muitos pagam mensalmente abate pouco, prolongando a dívida.

A Lusa questionou o Banco de Portugal sobre qual a taxa de juro média dos cartões de crédito em Portugal, tendo o supervisor respondido que entre janeiro e dezembro de 2024, a TAEG (Taxa Anual de Encargos Efetiva Global) média de todos os cartões em Portugal foi de 17,95%.

Em 2009, um diploma do Governo estabeleceu que trimestralmente, a partir de 01 de janeiro de 2010, o BdP definiria as taxas máximas no crédito aos consumidores. Segundo o regime das taxas máximas, em cada trimestre, a TAEG máxima (a TAEG corresponde a todos os custos inerentes à utilização do cartão) é a média praticada pelo mercado no trimestre anterior acrescida de um quarto. A este limite acresce que no máximo a taxa praticada não pode exceder a TAEG média de todos os contratos de crédito aos consumidores mais 50%.

Durante o segundo trimestre deste ano, segundo o estabelecido pelo BdP, é de 19,2% a taxa máxima que pode ser cobrada nos cartões de crédito.

Contudo, são muitos os clientes ‘presos’ a cartões de créditos mais antigos que, em geral, têm taxas mais elevadas. Mesmo quem tem cartões de crédito contratados após a entrada em vigor do regime (2010) fica ‘preso’ à taxa de juro definida aquando da contratação do cartão de crédito.

Por exemplo, se o cliente contrata um cartão de crédito este mês pela taxa de 19,2% (ou seja, o banco está a cobrar o máximo permitido pelo BdP este trimestre) e no futuro a taxa máxima se alterar (descer ou subir) fica na mesma vinculado à taxa contratada enquanto mantiver o cartão de crédito, salvo se conseguir renegociar com o banco.

Assim, se no próximo trimestre a taxa máxima descer essa nova taxa máxima não se aplica retroativamente aos contratos já celebrados, mas apenas a novos contratos formalizados a partir desse momento.

Para a Deco, outro dos problemas está relacionado com crédito ‘revolving’ e os custos associados. Este tipo de crédito é concedido através de um cartão com prazo de renovação e cada vez que é reembolsado o valor utilizado fica novamente disponível o ‘plafond’ inicial.

“Neste crédito, os consumidores muitas vezes desconhecem o verdadeiro custo do financiamento devido à forma como a dívida é renovada automaticamente”, afirmou Natália Nunes, acrescentando que muitos clientes pagam mensalmente valores que só abatem juros e comissões, mantendo a dívida praticamente inalterada.

Recordou ainda que são muitos os casos de pessoas que recorrem a um novo cartão de crédito para pagar outro, “caindo num ciclo de endividamento difícil de quebrar”.

Últimas de Economia

Segundo um relatório do INE realizado em 2025 sobre rendimentos do ano anterior indicam que 15,4% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2024, menos 1,2 pontos percentuais (p.p.) do que em 2023.
As exportações de bens caíram 5,2% e as importações recuaram 3% em outubro, em termos homólogos, sendo esta a primeira queda das importações desde junho de 2024, divulgou hoje o INE.
O número de trabalhadores efetivamente despedidos em processos de despedimentos coletivos aumentou 16,4% até outubro face ao período homólogo, totalizando os 5.774, superando o total de todo o ano passado, segundo os dados divulgados pela DGERT.
Os custos de construção de habitação nova aumentaram 4,5% em outubro face ao mesmo mês do ano passado, com a mão-de-obra a subir 8,3% e os materiais 1,3%, de acordo com dados hoje divulgados pelo INE.
Os consumidores em Portugal contrataram em outubro 855 milhões de euros em crédito ao consumo, numa subida homóloga acumulada de 11,3%, enquanto o número de novos contratos subiu 4%, para 157.367, divulgou hoje o Banco de Portugal (BdP).
O Governo reduziu o desconto em vigor no Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP), aplicável à gasolina sem chumbo e ao gasóleo rodoviário, anulando parte da descida do preço dos combustíveis prevista para a próxima semana.
Os pagamentos em atraso das entidades públicas situaram-se em 870,5 milhões de euros até outubro, com um aumento de 145,4 milhões de euros face ao mesmo período do ano anterior, segundo a síntese de execução orçamental.
O alojamento turístico teve proveitos de 691,2 milhões de euros em outubro, uma subida homóloga de 7,3%, com as dormidas de não residentes de novo a subir após dois meses em queda, avançou hoje o INE.
A taxa de inflação homóloga abrandou para 2,2% em novembro, 0,1 pontos percentuais abaixo da variação de outubro, segundo a estimativa provisória divulgada hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O ‘stock’ de empréstimos para habitação acelerou em outubro pelo 22.º mês consecutivo, com um aumento homólogo de 9,4% para 109.100 milhões de euros, divulgou hoje o Banco de Portugal (BdP).