Parlamento unânime num voto de pesar que salienta legado de paz de Francisco

A Assembleia da República aprovou hoje, por unanimidade, no início da sessão solene do 25 de Abril, um voto de pesar pela morte do Papa, no qual se salienta o legado de paz e misericórdia de Francisco.

© Folha Nacional

O voto foi apresentado pelo presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, tendo a escutá-lo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, membros do Governo, bem como outros titulares de órgãos de soberania e responsáveis institucionais também presentes no parlamento.

A seguir, cumpriu-se um minuto de silêncio, numa sessão solene que, do ponto de vista histórico, assinala igualmente os 50 anos das eleições para a Assembleia Constituinte – as primeiras em liberdade após a revolução de Abril de 1974.

No voto do presidente da Assembleia da República, refere-se que Francisco, natural de Buenos Aires, onde foi jesuíta e bispo, morreu na segunda-feira, aos 88 anos, após meses de sofrida doença respiratória e cardíaca.

Eleito Papa em 13 de março de 2013, “os seus 12 anos de pontificado representaram, para a Igreja e para o mundo, um decisivo apelo à fraternidade, à misericórdia e à paz”.

“As encíclicas sociais e ecológicas que escreveu colocaram no centro do debate público mundial conceitos como a amizade social, a fraternidade universal e a ecologia integral. Convidou-nos a uma reflexão crítica sobre a tecnologia, a relação com o mundo criado, a anomia social e o sistema económico”, sustenta-se no texto.

Neste voto, realça-se a ação do Papa pela valorização das culturas vernáculas “em face da força uniformizadora da globalização”.

“Promoveu importantes projetos, como o Encontro Mundial dos Movimentos Populares, as Scholas Ocurrentes e a Economia de Francisco (inspirada em São Francisco de Assis), através dos quais procurou convidar a que se desbravassem novos caminhos de convivência humana. Apoiou, com palavras e gestos, os mais pobres de entre os pobres”, observa-se.

Em relação pontificado de Francisco, do ponto de vista social, o parlamento aponta as visitas que efetuou a “prisões e hospitais, campos de refugiados e bairros degradados”.

“Em 2015, proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, não a partir de Roma, mas de Bangui, na República Centro-Africana. Quatro anos depois, beijou os pés dos líderes de três grupos armados do Sudão do Sul, num gesto profético de defesa da paz. Realizou 47 visitas apostólicas, a 67 países”, destaca-se ainda.

No texto aprovado pelo parlamento, assinala-se depois a atividade ecuménica do Papa, que esteve em Ur, “terra natal do patriarca Abraão, de onde lançou um poderoso apelo ao diálogo com judeus e muçulmanos”.

“Assinou, com o Grande Imã de Al-Azhar, um relevante documento inter-religioso sobre a fraternidade humana. Visitou todos os continentes habitados, dando preferência às periferias e alargando o alcance da voz da Igreja. Defendeu com coragem a dignidade de toda a vida humana, tendo sido responsável por uma revisão do catecismo da Igreja Católica que condenou a pena de morte em todas as circunstâncias. Sustentava também que a política, quando vivida como serviço, é a mais alta forma de caridade”, frisa-se neste texto da autoria de José Pedro Aguiar-Branco.

No voto, recorda-se ainda a forma como o Papa Francisco atravessou a Praça de São Pedro, no Vaticano, “vazia, para declarar, no ponto mais dramático da pandemia da covid-19, que ninguém se salva sozinho”.

“Era, além de tudo o mais, um bom amigo de Portugal. Criou quatro cardeais portugueses – um número histórico – e visitou por duas vezes o nosso país: Em 2017, para o centenário das Aparições de Fátima e a canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto; e em 2023, para a Jornada Mundial da Juventude” – indica-se ainda.

Depois, a Assembleia da República manifesta profundo pesar e endereça condolências aos católicos que “choram a partida do seu pastor”.

“O legado do Papa Francisco – como pastor e líder religioso, mas também como estadista e responsável político – continuará revestido de significado e atualidade, particularmente no contexto que o mundo atravessa”, acrescenta-se.

Últimas de Política Nacional

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou hoje os decretos da lei da nacionalidade, na sequência das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional, devolvendo-os à Assembleia da República.
O candidato presidencial Luís Marques Mendes divulgou hoje uma lista com os 22 clientes da sua empresa, na qual se encontram prestações de serviços em consultoria, comentários e participações em conferências, e que inclui a construtora de Famalicão Alberto Couto Alves.
A Autoridade Tributária classificou como “antiga” uma moradia reconstruída em 2024 pertencente ao ministro da Presidência, António Leitão Amaro, permitindo-lhe pagar menos de metade do IMI devido.
Luís Marques Mendes encerrou a sua empresa familiar e mantém silêncio sobre clientes, contactos e serviços que lhe renderam centenas de milhares de euros.
Foi distinguido oficialmente pelo Estado, elogiado em Diário da República pela ex-ministra da Justiça e apresentado como um quadro exemplar da governação. Meses depois, Paulo Abreu dos Santos está em prisão preventiva, suspeito de centenas de crimes de pornografia de menores e de abusos sexuais contra crianças.
O presidente da Assembleia da República decidiu hoje não remeter ao Ministério Público o caso da adulteração da assinatura da deputada socialista Eva Cruzeiro, considerando não atingir o patamar de crime, embora se trate de ato censurável.
André Ventura defende hoje em tribunal que os cartazes que visam os ciganos são uma mensagem política legítima cujas exceções ou retirada representaria um “precedente gravíssimo” e que os autores da ação pretendem um “julgamento político” da sua atividade.
O candidato presidencial André Ventura afirmou que Luís Marques Mendes está “condicionado”, considerando que as verbas recebidas pelos concorrentes a Belém como consultores não são uma questão menor.
A averiguação preventiva à Spinumviva, empresa da família do primeiro-ministro Luís Montenegro, foi arquivada na terça-feira, anunciou hoje a Procuradoria-Geral da República (PGR).
A Polícia Judiciária entrou esta terça-feira na Câmara de Mirandela e em empresas privadas para investigar alegadas ilegalidades em contratos urbanísticos. O processo envolve crimes de prevaricação e participação económica em negócio, com seis arguidos já constituídos.