Nos últimos meses, a Europa tem mostrado ao mundo um lado que muitos fingiram não ver: o desprezo crescente pelos agricultores, pelos produtores, por aqueles que verdadeiramente alimentam as nações. Em França, Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha, repetem-se as mesmas imagens: polícias de choque, ordens vindas de gabinetes distantes, decisões impostas sem diálogo, medidas sanitárias que podem destruir rebanhos inteiros e explorações familiares construídas ao longo de décadas. E tudo isto sempre em nome de uma alegada modernidade que só serve para sufocar quem trabalha a terra.
O que está a acontecer não é um detalhe. É um sinal gravíssimo de que os governos europeus estão a abandonar aqueles que deveriam proteger. Enquanto as elites discutem relatórios e regulamentos, os agricultores enfrentam burocracias absurdas, inspeções sem critério, imposições que não têm em conta a realidade do campo. Em vários países, produtores denunciam decisões que parecem feitas para castigar, e não para resolver. Para muitos, trabalhar a terra tornou-se uma profissão de risco, onde quem produz é tratado como um problema.
O mais inquietante é que este clima de desconfiança e perseguição não aparece de repente. Vem sendo preparado há anos por políticas que favorecem tudo menos quem planta e cria. O agricultor europeu é empurrado para a ruína através de regras ambientais sem transição, custos que duplicam, mercados distorcidos e uma pressão permanente para cumprir exigências que mudam todos os meses. É um cerco silencioso, mas devastador, que agora começa a rebentar em protestos, bloqueios e confrontos.
E Portugal? Por cá, o silêncio é quase total. Fala-se muito de sustentabilidade, de planos, de metas, mas evita-se encarar o essencial: o campo português está a ser abandonado. Os produtores lutam com margens mínimas, maquinaria cara, energia insuportável, regras complexas e apoio que chega tarde ou não chega. Cada vez há menos jovens na agricultura. Cada vez há mais terras ao abandono. Cada vez se importa mais e se produz menos. Isto não é progresso: é perda de soberania.
Quando vemos o que se passa nos países vizinhos, percebemos facilmente que Portugal pode ser o próximo capítulo desta história. Não podemos permitir que decisões tomadas longe da realidade imponham cortes, abates indiscriminados ou políticas que coloquem explorações familiares à beira do colapso. A alternativa existe, e passa por uma regra simples: ouvir quem trabalha. Não há qualquer razão para destruir animais saudáveis, castigar produtores ou impor medidas irreversíveis sem análises rigorosas e proporcionais. O bom senso deveria ser o mínimo num continente que se orgulha de direitos e liberdades.
É preciso olhar para estes agricultores europeus com respeito. Muitos deles estão à beira de desistir. Outros resistem sozinhos. Mas todos carregam o mesmo medo: serem a última geração. E se eles caírem, cai a produção nacional, cai a economia local, cai o acesso a alimentos seguros, cai a independência dos países. Não há soberania possível sem agricultura. Não há futuro possível sem quem alimenta o presente.
Por isso, este é o momento de dizer claramente que não aceitaremos que o campo português seja tratado como descartável. Que não iremos assistir de braços cruzados a políticas cegas que arrasam vidas inteiras. Que a dignidade de quem trabalha a terra vale mais do que qualquer regulamento escrito num gabinete distante. A agricultura é força, identidade, sustento e liberdade. E quem tenta destruí-la, destrói o país.