Em entrevista à agência Lusa e à SIC em Filadélfia, no estado da Pensilvânia, onde vive atualmente, Nuno Garoupa frisou que embora a eleição deste ano seja atípica devido a uma série de fatores – desde as tentativas de assassínio do ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump, à desistência da corrida eleitoral do atual Presidente, o democrata Joe Biden -, trata-se de “uma continuação de 2016 e 2020”.
“Nós podemos entender esta eleição com uma continuação [das eleições presidenciais] de 2016 e 2020. Na verdade, 2016 já era uma continuação de 2012, quando os republicanos, de facto, deslegitimaram a reeleição de Barack Obama. Portanto, as eleições são atípicas por um certo sentido, mas fazem parte de uma continuidade que é um país polarizado”, avaliou o professor da Universidade George Mason, nos Estados Unidos.
A inflação, a economia e a imigração ilegal são os problemas que mais preocupam os norte-americanos, que esperam ouvir dos candidatos os seus planos para reverter as tendências atuais.
As sondagens mostram que Trump e Kamala estão praticamente empatados na corrida pela Casa Branca, com a eleição a ser possivelmente decidida em estados-chave como a Pensilvânia.
A Pensilvânia é considerada um ‘swing state’ (‘estado pendular’ ou ainda ‘estado campo de batalha’), por tradicionalmente oscilar entre democratas e republicanos, acabando por ser essencial para a estratégia de campanha de um candidato, uma vez que o torna especialmente competitivo.
Contudo, a Pensilvânia tem a particularidade ser o mais valioso de todos os ‘swing states’, a valer 19 votos eleitorais, tornando-se paragem de rotina para as campanhas de Donald Trump e Kamala Harris, que tentam conquistar os cerca de sete milhões de votos em disputa.
“Eu acho que a eleição vai, inevitavelmente, passar por aqui. Na verdade, o candidato que perder aqui [na Pensilvânia] terá muita dificuldade em encontrar outros 19 lugares em dois ou três estados para que possa superar a perda da Pensilvânia”, advogou Nuno Garoupa, que tem uma especialização em Ciência Política.
Um levantamento feito pelo jornal New York Times indicou que os dois candidatos estão a investir mais verbas, tempo e energia na Pensilvânia do que em qualquer outro lugar, travando uma guerra publicitária enquanto cruzam o estado até ao sufrágio de 05 de novembro.
No total, as equipas de campanha de Harris e Trump planeiam gastar 350 milhões de dólares (310 milhões de euros) apenas em anúncios de televisão na Pensilvânia – mais do que nos estados do Michigan e Wisconsin juntos.
Na visão de Nuno Garoupa, tendo em conta a comunicação eleitoral massiva a que o eleitorado está exposto, já não haverá “nenhum eleitor que, neste momento, diga que não sabe o que é que os candidatos representam”.
“Tem sido uma campanha muito intensa na televisão, nas rádios, nos ‘podcasts’, nas redes sociais. E eu acho que, até diria da minha parte, tem um efeito contraproducente, porque as pessoas, a certa altura, estão muito exaustas e ainda faltam três semanas [para as eleições]. Portanto, isto é para continuar outras três semanas”, indicou.
“Por outro lado, é verdade que nenhum dos dois candidatos pode perder esses 100.000 votos [de eleitores indecisos] que fazem a diferença e, portanto, enquanto não for claro para quem vão esses 100.000 votos eu acho que os candidatos vão continuar a investir muitos recursos neste estado”, analisou o professor português a viver nos Estados Unidos.
Na Pensilvânia, Trump derrotou a antiga candidata presidencial democrata Hillary Clinton por mais de 40.000 votos em 2016, mas o atual Presidente, Joe Biden, nascido neste mesmo estado, derrotou Trump por cerca de 80.000 votos há quatro anos.
As eleições estão marcadas para 5 de novembro e vários estados já iniciaram o processo de voto antecipado e por correspondência.