Uma política cultural nacional deve assentar num eixo fundamental que inclua a Identidade, o Património e a Transmissão.
Os navegadores que deram «novos mundos ao mundo» levavam consigo os padrões com que deixaram a sua marca. Foi numa era que alguns já consideraram «a primeira globalização» e em que este símbolo de todo um génio nacional cristalizado na pedra, hoje reconhecido e reconhecível, nos distinguiu, afirmou e projectou.
Nação de matriz civilizacional europeia, Portugal atravessou séculos de História consolidando uma identidade própria. A sua influência tocou os mais longínquos pontos do globo e criou o mundo lusófono, sem nunca esquecer que sem a sua cultura, sem a sua identidade, os portugueses perderiam a vontade de partilhar um destino comum.
Na globalização actual e perante os ataques aos valores e símbolos nacionais e ao sentimento de pertença, à culpabilização da nossa História, dos nossos antepassados e do seu legado, urge marcar novamente a diferença. Impõe-se que defendamos o que é ser português e afirmemos o que nos distingue num mundo cada vez mais uniformizado e descaracterizado.
A identidade nacional e a memória colectiva, naturalmente em construção permanente, dependem da preservação de uma cultura e de um património singulares que unirá as gerações futuras de portugueses cuja herança nacional saberão continuar e enriquecer.
Há que reconhecer o que nos distingue, saber o que devemos preservar e como transmiti-lo são as directrizes para a defesa da nossa cultura – uma herança viva que nos molda enquanto povo e define a nossa terra. A nossa cultura conduz necessariamente a um modo de vida próprio em que as tradições populares ligam as pessoas às suas terras, estreitando os laços de comunidade e valorizando o que nos pertence numa perspectiva de futuro. A cultura é um factor de coesão essencial para soberania nacional.
Em primeiro lugar, impõe-se afirmar a nossa Identidade. A defesa da nossa cultura faz-se pela afirmação do que somos, do que reconhecemos como nosso, em suma, daquilo com que nos identificamos. A cultura portuguesa, naturalmente influenciada e influenciadora, é única. É exactamente na sua singularidade que está a sua riqueza. Perante a onda uniformizadora do multiculturalismo, é pela afirmação do que é nosso que devemos distinguir-nos. Só sabendo quem somos saberemos o que queremos. Só sabendo de onde viemos saberemos para onde vamos.
Depois, há que conservar o nosso Património. A preservação do nosso património material e imaterial é fundamental para a defesa da cultura portuguesa. No entanto, conservar não significa isolar. A cultura é por natureza dinâmica e a conservação do património deve ter como princípio a fruição e a participação não apenas das entidades públicas como de outras da sociedade civil. O património vivo será, assim, tanto um reflexo da cultura nacional, uma oportunidade económica e um pólo de atracção do turismo sustentável. O turismo de massas e os «parques temáticos monumentais» são cemitérios de uma cultura que se quer, pelo contrário, a chama brilhante que iluminará o futuro.
Por fim, devemos renascer pela Transmissão. As gerações mais jovens são os guardiães da nossa cultura, são quem a transmitirá mantendo-a viva. As ideias de que a defesa da cultura é passadista ou que a preservação do património é um revivalismo bacoco não têm sentido. A transmissão e valorização da cultura portuguesa, nomeadamente ao nível local, levará ao renascimento de um país que se sente envelhecido e despovoado. A redescoberta do que é português, da nossa autenticidade, num encontro entre tradição e modernidade, representará a sobrevivência da nossa cultura e da nossa Nação.
Defender a cultura portuguesa não é celebrar o passado, é viver o que não passa.