Como nasceu este entendimento entre o PSD e o CHEGA em Sintra? Foi uma aproximação natural ou uma necessidade política para garantir estabilidade governativa?
Nas últimas eleições autárquicas, o CHEGA alcançou um resultado histórico em Sintra: 23% dos votos, 38 mil eleitores, três vereadores e cerca de 70 eleitos nas freguesias. Foi a confirmação de que o Partido está consolidado no concelho. Depois de 12 anos de governação socialista, Sintra virou à direita. A coligação liderada pelo PSD obteve quatro vereadores e o CHEGA três — e os resultados foram claros: os sintrenses deram um cartão vermelho ao PS e exigiram diálogo à direita. O então candidato Marco Almeida sempre afirmou que não colocaria “linhas vermelhas” ao CHEGA, e cumpriu. O diálogo foi constante e leal, sempre com o objetivo de garantir estabilidade política durante quatro anos. O CHEGA impôs condições: que nenhum socialista integrasse a equação, que as funções municipais fossem atribuídas com base no mérito e no currículo e que as bandeiras centrais do Partido — combate à corrupção, controlo da imigração, fiscalização da habitação social e apoio às forças de segurança.
A entrada do CHEGA no executivo municipal é inédita no país. Sente que Sintra está a tornar-se um laboratório político de novas alianças à direita?
Absolutamente. O acordo em Sintra é o passo que faltava para quebrar o bipartidarismo. Na Ciência Política, fala-se do fim desse ciclo quando novas forças entram efetivamente no arco da governação. Sintra é uma experiência política inédita que demonstra a coerência, a exigência e a capacidade de execução do CHEGA. Até agora, o Partido era reconhecido pelo papel de fiscalização e oposição. Agora terá de provar a sua capacidade de governar e entregar resultados. E Sintra, sendo o segundo maior concelho do país, é o palco ideal para o demonstrar. Para o PSD e para a direita, este acordo também é um teste: perceberam que as “linhas vermelhas” ao CHEGA são amarras políticas. Quando o objetivo é derrotar o socialismo, ignorar o CHEGA é um erro estratégico e uma miopia política.
O CHEGA vai assumir duas pastas relevantes — Segurança e Atividades Económicas. Como foi feita essa distribuição? Foi uma negociação difícil?
Não. As negociações foram claras e objetivas. O CHEGA não se ofereceu para governar — fomos contactados pela coligação vencedora, e as pastas da Segurança e das Atividades Económicas foram sugeridas desde o início. Aceitámos com base em dois princípios: responsabilidade e mérito. Queremos governar sem perder a nossa identidade política. Por isso, inscrevemos medidas concretas nas áreas-chave, como a transparência na habitação social, o reforço da videovigilância e a simplificação de processos económicos. O acordo não nos demite do dever de fiscalizar o executivo. Vamos colaborar com estabilidade, mas sem abdicar da independência e dos valores fundacionais do Partido.
Marco Almeida afirmou ter encontrado no CHEGA “total disponibilidade para colaborar”. Essa confiança é recíproca?
Sim. A base dessa confiança é o trabalho. Marco Almeida reconheceu no CHEGA perfis competentes e empenhados, e nós reconhecemos nele a vontade de transformar Sintra. A colaboração assenta na seriedade e na reciprocidade. O CHEGA é um Partido de palavra, e vai honrar o compromisso assumido. A nossa fidelidade é, acima de tudo, para com o povo de Sintra, é esse o nosso primeiro e maior compromisso.
Em matéria de Segurança, que medidas concretas pretendem implementar?
Sintra é um concelho com 25% de população imigrante, com problemas de insegurança, violência doméstica e delinquência juvenil. É inaceitável que haja esquadras da PSP com apenas uma viatura operacional ou postos da GNR degradados e sem meios. Queremos reforçar o número de agentes da Polícia Municipal, modernizar os equipamentos e investir em videovigilância funcional, não apenas no papel. Também queremos atuar na fiscalização económica, especialmente nas novas lojas e mercearias que se multiplicam sem controlo e alteram o comércio local. A segurança é a condição essencial da liberdade, e o CHEGA vai tratar esse tema com prioridade máxima.
O CHEGA vai liderar também as Atividades Económicas e Fundos Comunitários. O que muda na estratégia económica do município?
Sintra perdeu tempo e oportunidades. Durante anos, entidades e associações que podiam beneficiar de fundos comunitários ficaram de fora por falta de apoio técnico. Queremos criar gabinetes especializados para apoiar candidaturas, garantir transparência total nos processos e centralizar informação em portais públicos acessíveis. A nossa gestão será marcada pela modernização e pelo uso inteligente da tecnologia e da inteligência artificial. Sintra tem tudo para se tornar um concelho-modelo em transparência e eficiência, e é isso que o CHEGA quer provar.
Que mensagem deixa aos sintrenses que receiam esta aliança?
Compreendo a preocupação. Durante décadas, muitas alianças serviram apenas para preservar o sistema. Esta é diferente. O CHEGA nasceu do inconformismo de quem se cansou de ver concelhos como Sintra tratados como periferias e cidadãos de primeira a viver como de segunda. Garantimos que não esquecemos de onde viemos. A política é a arte do possível, e não há mudança sem estar nos lugares de decisão. Estamos aqui para fazer a diferença, mas com a mesma liberdade com que entramos, sairemos se a seriedade e a coerência se perderem.
O que quer que fique na história deste mandato conjunto: a estabilidade, a inovação política ou a coragem de governar com quem pensa diferente?
Queremos que Sintra se torne mais segura, mais dinâmica e mais próspera. Se daqui a quatro anos o concelho estiver melhor, provar-se-á que o CHEGA tem quadros e capacidade para governar. O nosso objetivo é simples: servir Sintra e servir Portugal. Que o país olhe para este exemplo e perceba que governar com coragem é possível, mesmo quando se pensa diferente.