A crise migratória na disputa Biden-Trump

A crise migratória que está a contaminar as eleições nos EUA começou a manifestar-se no final de 2020 e alarmou o Governo quando no ano passado entraram quase três milhões de migrantes através do México.

©facebook.com/DonaldTrump

 

O Presidente norte-americano, Joe Biden, já reconheceu que a política de controlo de entradas pela fronteira do México tem de ser revista, mas falhou um plano de entendimento entre republicanos e democratas no Congresso, não conseguindo evitar que o tema se infiltre na campanha eleitoral e possa servir os interesses do seu previsível adversário, o ex-Presidente Donald Trump.

Eis alguns pontos essenciais sobre os contornos políticos da crise migratória:

*** As origens da crise migratória ***

No final de 2020, as autoridades de fronteira dos Estados Unidos avisaram o então Presidente Donald Trump de que aumentavam os sinais de pressão para a entrada de imigrantes ilegais através da fronteira com o México.

Trump tentou ignorar o assunto, porque o tema tinha sido bandeira eleitoral na sua campanha de eleição em 2016 e eram fracos resultados do seu mandato nesta área (incluindo a não construção do prometido muro ao longo da fronteira).

No ano seguinte, 2021, já com o democrata Joe Biden na Casa Branca, um número recorde de 1,8 milhões de migrantes passaram a fronteira com o México, sobretudo oriundos da Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Venezuela.

Em 2022, o número de imigrantes passou para 2,8 milhões e no ano passado já eram cerca de três milhões, levando Biden a reconhecer que o problema precisava de uma solução radical, admitindo a necessidade de reforço das autoridades policiais e até a construção do muro que tanto tinha criticado a Trump.

*** A solução do Governo Biden ***

O Governo de Biden reconheceu que as políticas de migração mais restritivas impostas pelo seu antecessor republicano podiam ser realmente necessárias e, pouco tempo depois de ter chegado à Casa Branca anunciou que abdicava de algumas das suas promessas eleitorais nesta área, mantendo em vigor leis do tempo de Trump.

Uma das medidas que foi prolongada foi aquela que ficou conhecida como Política do Título 42, que permitia a deportação rápida de imigrantes que chegassem à fronteira sem documentação legal, e que Biden tinha criticado durante a campanha eleitoral de 2020.

“Não venham!”, pediu Trump aos imigrantes ilegais que cresciam em número junto da fronteira com o México, ao mesmo tempo que anunciava a criação de um plano para que esses migrantes pudessem pedir asilo sem terem de sair dos seus países de origem, procurando travar a passagem deles através do México até às portas dos Estados Unidos.

Em março de 2021, a vice-Presidente, Kamala Harris, desenhou um esquema para tentar reduzir o número de menores não acompanhados que chegavam à fronteira, iniciando negociações com governos de países como as Honduras, Guatemala, El Salvador e México, para atacar as causas do problema.

*** O agravar do problema ***

Em setembro de 2021, as autoridades norte-americanas tiveram de reconhecer que o problema da migração estava fora de controlo, quando cerca de 30.000 imigrantes oriundos do Haiti chegaram ao posto de fronteira de Del Rio, no Texas, obrigando à criação de um campo de acolhimento que foi criticado por numerosas agências e organizações não governamentais pela sua total falta de condições humanitárias para acomodar os cerca de 15.000 residentes temporários.

Por essa altura, as sondagens revelavam que mais de 70 por cento dos norte-americanos discordavam da política migratória de Biden, contribuindo para níveis recorde de impopularidade do Presidente que já começava a alimentar as esperanças de prosseguir para um segundo mandato.

As autoridades de fronteira repetiam avisos de não serem capazes de controlar a situação, depois de terem registado mais de 1,7 milhões de detenções de imigrantes ilegais durante o ano de 2021, o número mais elevado alguma vez constatado nos Estados Unidos.

As imagens da morte de 53 migrantes por asfixia num veículo que os transportava no sul do Texas, em junho de 2022, tornou-se viral nas redes sociais e trouxe o problema da política migratória de novo para as aberturas dos noticiários televisivos, engrossando o embaraço da Casa Branca.

No ano passado, estados controlados por republicanos, como o Texas e a Florida, começaram a enviar camionetas repletas de imigrantes para estados controlados por democratas, como Nova Iorque, na esperança de se livrarem de problemas e os colocarem nas mãos dos adversários políticos, adensando a crise migratória, com a chegada em massa de migrantes ao centro de cidades já com suficientes problemas migratórios.

*** O falhanço das soluções bipartidárias ***

Em 2023, a Casa Branca decidiu enfrentar o problema com o endurecimento das políticas migratórias, ao mesmo tempo que intensificava a ajuda aos países de origem de muitos dos imigrantes, procurando aliviar o problema no seu ponto de partida.

Algumas das medidas adotadas pelo Governo de Biden não diferiam muito das do tempo de Trump, mas a aproximação da campanha para as eleições presidenciais de 2024 não permitiu aos republicanos associarem-se no apoio que a Casa Branca pedia ao Congresso.

Finalmente, no verão do ano passado, os republicanos aproveitaram os pedidos de Biden para reforço da ajuda financeira e militar à Ucrânia, na resistência à invasão russa, para fazer depender a sua aprovação de significativos reforços no investimento à proteção das fronteiras.

Contudo, nem essa condição parece ter sido suficiente para garantir um plano bipartidário no Congresso, apesar das cedências democratas, com os republicanos a exigirem cada vez mais e mais rapidamente, pressionados por Donald Trump, que quer fazer do tema, mais uma vez, uma bandeira de campanha.

Nas últimas semanas, Biden decidiu endurecer as medidas de controlo migratório, mandando fechar a fronteira com o México, numa decisão que os democratas teriam condenado veementemente na era de Trump.

Últimas de Política Internacional

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, admitiu hoje que as negociações de paz na Ucrânia poderão começar até ao final do ano.
Os ministros da Agricultura e Pescas da União Europeia (UE) iniciam hoje, em Bruxelas, as discussões sobre as possibilidades de pesca para 2025, negociações que, na terça-feira, se deverão prolongar noite dentro.
O Kremlin acusou hoje o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de "recusar negociar" com Vladimir Putin o fim do conflito na Ucrânia, exigindo mais uma vez que Kiev tenha em conta "as realidades no terreno".
O Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, anunciou hoje que não vai envolver o seu país na crise na Síria - com a ofensiva lançada por rebeldes contra o regime - e culpou o ex-Presidente Barack Obama pela situação.
O líder da maior contestação aos resultados eleitorais em Moçambique é um pastor evangélico que passou pelos principais partidos de oposição, mas se rebelou para abrir uma “frente independente” contra a “máquina” que governa Moçambique há meio século.
Uma manifestação contra o Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, começou hoje em Seul defronte da Assembleia Nacional da Coreia do Sul, antes da sessão parlamentar destinada a aprovar a demissão do chefe de Estado pela aplicação da lei marcial.
O ministro do interior da Jordânia anunciou hoje o encerramento do posto fronteiriço de Jaber com a Síria, devido às "condições de segurança" no país após a ofensiva contra o governo de Bashar al-Assad, informaram fontes oficiais.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, voltou hoje a exigir a Bruxelas que desbloqueie fundos europeus e ameaçou com um eventual travão ao próximo grande orçamento da União Europeia.
Sete em cada dez sul-coreanos apoiam a moção parlamentar de destituição do Presidente Yoon Suk-yeol, apresentada pela oposição, depois de o dirigente ter decretado lei marcial, indica hoje uma sondagem do Realmeter.
O Governo francês, liderado por Michel Barnier, foi hoje destituído por uma moção de censura com 331 votos favoráveis da coligação de esquerda Nova Frente Popular e da direita radical, União Nacional.