“Que tal, para equilibrar, encorajar [o Presidente russo Vladimir] Putin a ter a coragem de retirar o seu exército da Ucrânia? A paz viria imediatamente, sem a necessidade de negociações”, escreveu Radoslaw Sikorski numa mensagem na rede social X, acompanhada de um vídeo com as declarações do Papa, juntando-se a outras vozes críticas da proposta de Francisco.
A Polónia, um dos países mais católicos da Europa, é um dos principais aliados da Ucrânia, desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, e acolheu cerca de dois milhões de refugiados ucranianos em fuga do conflito.
O Presidente da Letónia, Edgards Rinkevics, também se referiu às palavras do pontífice, retiradas de uma entrevista à Rádio Televisão Suíça que será transmitida na íntegra no dia 20 e da qual alguns excertos foram publicados no sábado.
“Não devemos capitular diante do mal, devemos combatê-lo e derrotá-lo, para que o mal levante a bandeira branca e capitule”, declarou o líder da Letónia, que, à semelhança dos outros estados bálticos, se encontra entre os principais parceiros de Kiev.
A Ucrânia respondeu duramente hoje ao Papa Francisco, prometendo nunca se render à Rússia.
“A nossa bandeira é amarela e azul. Esta é a bandeira pela qual vivemos, morremos e triunfamos. Nunca levantaremos outras bandeiras”, declarou o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, no X.
“Quando se trata da bandeira branca, conhecemos a estratégia do Vaticano na primeira parte do século XX. Apelo para que evitemos repetir os erros do passado e apoiemos a Ucrânia e o seu povo na sua luta pela vida”, acrescentou, numa referência às acusações de silêncio da Santa Sé face às atrocidades cometidas durante a II Guerra Mundial.
No entanto, o chefe da diplomacia Ucrânia disse esperar que Francisco “encontre a oportunidade de fazer uma visita canónica à Ucrânia”.
Numa entrevista à televisão pública RTS transmitida no sábado, o Papa Francisco, questionado sobre a situação na Ucrânia, apelou para não se ter “vergonha de negociar antes que as coisas piorem”.
“Acredito que os mais fortes são aqueles que veem a situação, pensam nas pessoas e têm coragem de levantar a bandeira branca e negociar”, disse.
Após a divulgação da entrevista, a Santa Sé esclareceu que o Papa não estava a falar de rendição, mas sim de negociação
Antes, a embaixada da Ucrânia junto do Vaticano afirmou que durante a Segunda Guerra Mundial “ninguém falou de negociações de paz com Hitler”.
“É muito importante ser coerente! Quando falamos da Terceira Guerra Mundial, que estamos a viver, temos de aprender as lições da Segunda Guerra Mundial”, escreveu a representação diplomática nas redes sociais, segundo a agência espanhola EFE.
“Nessa altura, alguém falou seriamente de negociações de paz com Hitler e da bandeira branca para o satisfazer? Então, a lição é só uma: se queremos acabar com a guerra, temos de fazer tudo o que pudermos para matar o Dragão!”, acrescentou.
O primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que tem oficialmente mais de cinco milhões de membros na Ucrânia, também reagiu, sem mencionar claramente o Papa.
“A Ucrânia está ferida, mas rebelde! (…) Acredite, ninguém tem na cabeça a ideia de se render, mesmo onde os combates estão a acontecer hoje – ouça o nosso povo nas regiões de Kherson, Zaporija, Odessa, Kharkiv, Sumy!”, disse Sviatoslav Shevchuk no sábado durante uma missa numa igreja de Nova Iorque, onde se encontra em viagem.
Mais de dois anos após a invasão russa, a Ucrânia espera realizar em breve na Suíça uma cimeira sobre a paz, segundo a fórmula de Kiev, mas sem a participação de Moscovo.
A Turquia ofereceu-se na sexta-feira para acolher uma cimeira de paz entre Kiev e Moscovo durante uma visita do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Istambul, defendendo a participação de Moscovo.
“Qualquer proposta de resolução desta guerra deve partir da fórmula proposta pelo país que defende o seu território e o seu povo”, respondeu Zelensky à oferta do homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan.
A Ucrânia exige a retirada das tropas russas do seu território, incluindo a Crimeia, anexada em 2014, como pré-condição para negociações com Moscovo.
Moscovo respondeu à exigência ucraniana afirmando que Kiev tem de se conformar com a nova realidade.
Além da Crimeia, a Rússia anexou as províncias de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia depois de ter invadido a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, desencadeando a guerra em curso, mas não controla nenhuma destas regiões na totalidade.