O porta-voz do ACNUR, William Spindler, explicou num comunicado emitido após uma conferência de imprensa hoje, em Genebra, que as inundações que começaram no fim de abril são o maior desastre relacionado com o clima que já aconteceu no sul do Brasil.
O ACNUR estima que sejam necessários 3,2 milhões de dólares (2,9 milhões de euros) para apoiar a resposta da instituição ao evento climático no sul do Brasil, incluindo assistência financeira aos afetados.
Uma equipa especializada na gestão de abrigos, documentação e prevenção da violência baseada no género da agência foi mobilizada para as áreas de desastre e está a coordenar a receção de artigos de ajuda enviados pelo ACNUR.
A equipa da agência também presta assistência técnica para melhorar o funcionamento dos abrigos, principalmente em Porto Alegre, capital do estado.
O ACNUR informou ainda que as primeiras unidades habitacionais para refugiados e colchões chegaram à área afetada na última segunda-feira, vindos do armazém do ACNUR em Boa Vista.
Outros itens como galões, mochilas, fraldas para adultos, lonas, lâmpadas solares, mosquiteiros e kits sanitários e de higiene estão a caminho do Rio Grande do Sul, alguns provenientes dos stocks do ACNUR na Colômbia e no Panamá.
O ACNUR referiu que tem atuado junto com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) em visitas a abrigos para investigar as condições de vida dos refugiados afetados pela chuva que destruiu parte do estado brasileiro do Rio Grande do Sul.
Segundo a agência para refugiados da ONU, os entrevistados expressaram preocupação com o seu futuro, especialmente para onde e quando regressarão. O ACNUR, juntamente com outros parceiros, também está a dar prioridade à reemissão de documentação perdida.
Além disso, organizações lideradas por refugiados no Rio Grande do Sul arrecadaram e distribuíram doações em abrigos de emergência.
As autoridades locais informaram que as chuvas já provocaram 164 mortos no sul do Brasil, dos quais 163 no Rio Grande do Sul e um no estado de Santa Catarina.
Atualmente, há 63 mil pessoas em abrigos e mais de 580 mil pessoas alojadas em casas de amigos e parentes. Ao todo, as tempestades afetaram a vida de mais de 2,3 milhões de pessoas e 469 cidades.
Segundo dados do Governo brasileiro, o estado do Rio Grande do Sul acolhe mais de 21 mil refugiados venezuelanos que foram realocados do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela, desde abril de 2018.
Mesmo com a redução das chuvas e a queda do nível dos rios, a situação no Rio Grande do Sul é muito preocupante. A previsão meteorológica para os próximos dias indica chuva e ventos fortes, tempestades e possível queda de granizo em partes do território. Hoje, as previsões apontam que um ciclone pode levar a mais chuvas com ventos constantes ao litoral gaúcho.
Eventos climáticos extremos no Brasil têm sido mais frequentes e devastadores nos últimos anos, incluindo secas na região amazónica e chuvas intensas nos estados da Baía e do Acre, aos quais o ACNUR tem respondido.
Mas a organização alertou que o financiamento para fazer face aos impactos das alterações climáticas é insuficiente para responder às necessidades das pessoas deslocadas à força e das comunidades que as acolhem.
O ACNUR também frisou que as “alterações climáticas afetam desproporcionalmente os refugiados e outras pessoas que necessitam de proteção internacional, que já vivem em zonas vulneráveis propensas aos efeitos de fenómenos climáticos extremos e recorrentes”.
Em abril, o ACNUR lançou o seu primeiro Fundo de Resiliência Climática para aumentar a resiliência dos refugiados, das comunidades deslocadas e dos seus anfitriões à crescente intensidade dos fenómenos meteorológicos extremos relacionados com as alterações climáticas.