Ao longo do dia, o Presidente francês reuniu-se no Eliseu com os seus dois antecessores como chefe de Estado, o socialista François Hollande e o conservador Nicolas Sarkozy, e com o primeiro-ministro demissionário, Gabriel Attal.
Durante a manhã, Macron conversou também com Bernard Cazeneuve, primeiro-ministro e ministro na época de François Hollande (2012-2017), que é até hoje o nome que parecia estar no topo da lista para chefiar o Executivo, mas que não é consensual na aliança de esquerda vencedora das últimas eleições, a Nova Frente Popular (NFP).
Após ter exercido o cargo de primeiro-ministro, Cazeneuve abandonou o Partido Socialista devido às suas divergências com a nova direção que se aproximou da França Insubmissa (LFI, esquerda radical), de Jean-Luc Mélenchon, e principal força da NFP.
Macron reuniu-se à tarde com o presidente dos Republicanos da região de Hauts-de-France (no norte), o conservador Xavier Bertrand, e com o líder centrista François Bayrou, um dos principais aliados políticos do Presidente.
Bernard Cazeneuve será o escolhido se Macron optar por um caminho de centro-esquerda, enquanto Xavier Bertrand será uma opção se o chefe de Estado francês optar por uma orientação de centro-direita.
Todas as reuniões decorreram no mais rigoroso silêncio de todas as partes, uma vez que o Eliseu não permitiu o acesso da imprensa ao seu pátio e nem os interlocutores do Presidente francês fizeram quaisquer declarações.
Por conseguinte, não há qualquer indicação concreta de quando Macron poderá anunciar a sua decisão sobre a nomeação do próximo primeiro-ministro, numa altura em que a França se aproxima do recorde de um governo demissionário em funções durante a V República.
Entretanto, vários meios de comunicação franceses apontaram também o nome de Thierry Beaudet, atual presidente do Conselho Económico, Social e Ambiental (CESE), como uma nova possibilidade “muito séria” para o cargo.
Beaudet dedica-se à economia social e poderá desempenhar o papel de chefe de um governo tecnocrático até à possível realização de novas eleições legislativas em julho do próximo ano.
No entanto, não é claro se a divulgação do seu nome significa a intenção real de ser nomeado pelo Presidente, que procura alguém que garanta estabilidade, ou se se trata apenas de um ensaio para testar a sua hipotética aceitação no cargo.
Até ao aparecimento do nome de Thierry Beaudet, o favorito parecia ser Bernard Cazeneuve, como a alternativa de Macron em favor de uma esquerda muito moderada contra Lucie Castets, a candidata a primeira-ministra imposta, sem sucesso, pela coligação de esquerda NFP.
O nomeado escolhido pelo Presidente francês terá de enfrentar uma Assembleia Nacional muito dividida e sem maiorias claras, um verdadeiro puzzle, com ameaças de moções de censura entre os três grandes blocos (extrema-direita, macronismo e aliança de esquerda).
As consultas de Macron com os partidos e os grupos parlamentares começaram a 23 de agosto, mas, à exceção da rejeição de Lucie Castets, o Presidente não tomou qualquer decisão, sendo acusado por uma parte da oposição de exceder as suas funções ao tentar tecer alianças parlamentares, uma tarefa que, em teoria, corresponde ao chefe do Governo.
O primeiro-secretário dos socialistas, Olivier Faure, disse hoje à rádio FranceInfo que a NFP irá apoiar uma moção de censura contra “qualquer continuidade com o macronismo” e que quer saber dos “projetos” independentemente dos nomes que são dados.
“Não sei que opções políticas é que ele [Thierry Beaudet] defende”, afirmou o líder socialista quando questionado sobre o possível candidato.
No domingo, a agência de notícias AFP avançou que Macron deverá anunciar a nomeação do próximo primeiro-ministro na terça-feira.