Crianças do 1.º ciclo e raparigas são quem mais sofre bullying na escola

As crianças do 1.º ciclo e as raparigas são quem mais sofre de 'bullying', segundo o Observatório Nacional do Bullying, que recebeu 666 denúncias em cinco anos, quase sempre entre colegas da mesma escola.

© D.R.

A plataforma informal de denuncia de casos de ‘bullying’ foi lançada pela Associação Plano i em 30 de janeiro de 2020 e, desde então, recebeu 666 denúncias, a maioria no primeiro ano de atividade, em que foram recebidas 407 queixas.

Ao longo dos últimos cinco anos, as tendências mantiveram-se: as raparigas são mais vulneráveis, os casos acontecem sobretudo no recreio sob a forma de violência psicológica e são vários os agressores.

Segundo um balanço das denúncias reportadas entre 2020 e 2024, a média das idades das vítimas é 13,7 anos, maioritariamente raparigas (59%), enquanto os agressores foram sobretudo rapazes (56%) com uma média de 13,23 anos.

Os dados mostram também que os anos de escolaridade de maior ocorrência são no 1.º ciclo (32,9%), seguido do 3.º ciclo (23,4%) e do 2.º ciclo (22,4%), mas não significa que as crianças mais novas sejam mais vulneráveis, sugere Mafalda Ferreira, coordenadora do Observatório, em declarações à Lusa.

“Podemos assumir que os pais, o pessoal docente e não docente, as testemunhas estão mais sensibilizadas, por vezes, em torno da idade da criança, o que faz com que haja uma maior tendência para repudiar este comportamento e considerá-lo digno de ser comunicado”, refere a investigadora, sublinhando que, por outro lado, a supervisão nas escolas também é maior no 1.º ciclo.

Os relatos, apresentados frequentemente pelos encarregados de educação, mostram que as situações de ‘bullying’ ocorrem sobretudo nos recreios, durante os períodos de intervalo, mas com as novas tecnologias acabam por extravasar, cada vez mais, esse contexto.

Esta tendência começou durante a pandemia da covid-19, quando as escolas fecharam portas e os alunos continuaram a estudar em casa, mas não se limitou a esse período e tem-se agravado desde então, refere Mafalda Ferreira.

“Não podemos ignorar o que vemos à nossa volta no contexto das camadas mais jovens e do uso precoce dos telemóveis. Faz com que o ‘bullying’ não cesse naquele momento”, sublinha, referindo como exemplo que os alunos podem ser vitimas mesmo dentro da sala de aula, através das redes sociais, e depois de regressarem a casa.

Apesar de a maioria das situações continuarem a ocorrer presencialmente, 4,8% dos casos denunciados foram ‘online’ e em 22,5% as vítimas sofreram nos dois contextos.

Muitas vezes, o ‘bullying’ ocorre quase todos os dias (54%) e em 21,4% dos casos é mesmo uma realidade vivida diariamente pelas vítimas, sendo que os agressores são quase sempre colegas da mesma escola.

Em média, por cada vítima são contabilizados três agressores, um dado que Mafalda Ferreira considera preocupante.

“Reforça a vulnerabilidade destas vítimas e alguma sensação de falso empoderamento por parte das pessoas agressoras. É um delito que acontece de forma coletiva e pode até ser potenciado nesse sentido”, explica.

Trata-se também, na esmagadora maioria dos casos, de violência psicológica, muitas vezes combinada também com violência social e física, sendo que entre as mais de 600 denúncias recebidas houve casos de violência sexual e financeira.

Os motivos mais apontados são o aspeto físico das vítimas (51,9%) e os resultados académicos (34,9%), havendo também quem sofra devido à idade, sexo, orientação sexual e identidade de género, e nacionalidade e etnia.

O resultado é quase sempre o mesmo: ansiedade, tristeza, vergonha e dificuldades de concentração. Mas as consequências dos casos relatados não se ficam por aí: em 44% dos casos as vítimas tiveram de receber apoio psicológico e em 20,9% tratamento médico.

Ao longo dos cinco anos, registaram-se situações mais graves, sendo que perto de 90 denúncias relatam que os jovens estiveram em risco de vida e cerca de 30 relatam a necessidade de hospitalização.

Últimas do País

Duas pessoas foram hoje resgatadas da Cova do Ladrão, no parque florestal de Monsanto, em Lisboa, durante um simulacro de sismo que serviu para testar a capacidade de reação das forças de segurança, num exercício coordenado pelo exército.
Mais de 2.300 novos médicos começaram a escolher as vagas para a formação numa especialidade, mas o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) teme que nem todos os lugares disponibilizados para o internato venham a ser ocupados.
Os incêndios florestais de 2024 e 2025 revelaram “falhas de coordenação” entre as diferentes forças no terreno que provocaram atrasos no tempo de resposta aos fogos, aumentando a sua propagação, revela um relatório da OCDE.
A Polícia Judiciária (PJ) participou numa operação promovida pela Europol para identificar organizações criminosas que exploravam, ilegalmente, canais televisivos, tendo sido possível rastrear 55 milhões de dólares em criptoativos.
Uma endocrinologista foi hoje detida no Porto pela Polícia Judiciária (PJ) por alegado envolvimento num esquema fraudulento de prescrição de medicação para diabetes a utentes que queriam perder peso, lesando o Estado em mais de três milhões de euros.
Três alunos ficaram hoje feridos pelo rebentamento de petardos na Escola Básica e Secundária Josefa de Óbidos, em Lisboa, que terão sido lançados por outros dois estudantes daquele estabelecimento de ensino, informou a PSP.
Uma em cada três mulheres foi violência íntima ou sexual ao longo da vida, avançou hoje a Organização Mundial da Saúde, sublinhando tratar-se de uma das crises de direitos humanos mais negligenciadas do mundo.
Cinco pessoas foram detidas hoje no âmbito da operação de prevenção criminal que o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP está a realizar hoje na zona da Alta de Lisboa, Ameixoeira e Ajuda, segundo aquela força de segurança.
A Polícia Judiciária desmantelou um esquema de corrupção dentro de uma Unidade de Saúde Familiar, onde duas funcionárias alegadamente criavam milhares de números de utente ilegais para imigrantes. A operação “Gambérria” já levou à detenção de 16 pessoas e expõe um dos maiores escândalos recentes de acesso fraudulento ao SNS.
A ministra da Saúde garantiu hoje que o projeto de ampliação e requalificação do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, “não está na gaveta” e que “já tem pernas” para avançar “no início do próximo ano”.