“Não costumo votar nas eleições autárquicas”

Há quem diga, quase sem pudor, que não costuma votar nas eleições autárquicas. Muitos justificam a abstenção com frases como “a política é sempre a mesma”, “não muda nada” ou “isso é lá para Lisboa”. Mas enganam-se — e enganam-se redondamente.

Se há eleições que têm impacto direto e imediato na vida das pessoas, são as autárquicas. O Poder Local. São elas que decidem se a estrada onde passa todos os dias terá buracos reparados, se a escola básica do bairro será requalificada, se haverá transporte público digno, se a praça da vila terá vida cultural ou se a iluminação das ruas garantirá segurança. A política de proximidade não vive em gabinetes longínquos, vive na junta de freguesia e na câmara municipal.

É curioso como muitos cidadãos se mobilizam para grandes causas nacionais, mas ignoram as pequenas batalhas locais que fazem a diferença no quotidiano. Não votar nas autárquicas é abdicar de influenciar quem gere o orçamento que paga o jardim onde os filhos brincam, o mercado municipal onde se compra fruta, a recolha do lixo que evita maus odores na rua ou até o apoio à associação cultural que mantém viva a identidade da terra.

Votar nas eleições autárquicas não é apenas escolher um presidente de câmara ou de junta, é decidir quem terá o poder e a coragem de resolver os problemas concretos e visíveis da comunidade. É, acima de tudo, assumir responsabilidade cívica pelo lugar onde vivemos, trabalhamos e criamos família.

Abster-se, pelo contrário, é deixar que outros decidam por nós. E se a desculpa é a desconfiança nos políticos, então é ainda mais urgente participar, fiscalizar, exigir transparência e, claro, votar. Só assim a política de proximidade cumpre a sua função: aproximar o poder das pessoas.

Por isso, da próxima vez que alguém disser “não costumo votar nas eleições autárquicas”, a resposta deve ser simples: “Mas devia. Porque é aí que tudo começa.”

Artigos do mesmo autor

O Tribunal Constitucional declarou inconstitucionais as alterações à Lei dos Estrangeiros. Imediatamente após ter sido conhecido o resultado das eleições, não bastava ter uma presença parlamentar expressiva: quem molda os limites ao que o Parlamento faz é o Tribunal Constitucional. Ou seja, o CHEGA (e a AD) podem legislar o que quiserem e no sentido […]

Como a Constituição da República Portuguesa exige uma maioria de 2/3 dos deputados (154 em 230) para aprovar alterações constitucionais, essa maioria já é atingida com os atuais 156 deputados da AD, CHEGA e IL, sem necessitar do apoio do PS. A Constituição encontra-se obsoleta. O país já não é o mesmo de 1974 ou […]

Aproximam-se as eleições legislativas de 18 de maio, e há nacionalistas e pessoas de Direita com dúvidas. Vamos esclarecê-las? Alguns estão ideologicamente confusos. Outros continuam enfeitiçados pela ilusão do voto útil. Permitam-me que vos diga: nenhum voto é verdadeiramente útil se não for um voto por convicção. Em seis pontos, explico o porquê de o […]

“Diretor da PJ nega relação entre imigração e crime.” Existe uma clara sobrerrepresentação de cidadãos estrangeiros no crime, mas o Senhor Diretor Nacional da Polícia Judiciária diz que não contribuem para o aumento da criminalidade. Os dados explanados revelam-se profundamente manipulados, dado que um número significativo de reclusos de etnia africana e cigana possui nacionalidade […]

Novamente voltamos à época de incêndios e continuamos com o princípio, de hoje assistirmos a uma série de técnicos, politólogos e gente entendida alegadamente na “poda”, a falar sobre esta questão. Nós nunca tivemos uma política preventiva de fogos, nós estamos sempre nesta lógica da reação, na lógica de atirar os bombeiros como carne para […]