Há quem diga, quase sem pudor, que não costuma votar nas eleições autárquicas. Muitos justificam a abstenção com frases como “a política é sempre a mesma”, “não muda nada” ou “isso é lá para Lisboa”. Mas enganam-se — e enganam-se redondamente.
Se há eleições que têm impacto direto e imediato na vida das pessoas, são as autárquicas. O Poder Local. São elas que decidem se a estrada onde passa todos os dias terá buracos reparados, se a escola básica do bairro será requalificada, se haverá transporte público digno, se a praça da vila terá vida cultural ou se a iluminação das ruas garantirá segurança. A política de proximidade não vive em gabinetes longínquos, vive na junta de freguesia e na câmara municipal.
É curioso como muitos cidadãos se mobilizam para grandes causas nacionais, mas ignoram as pequenas batalhas locais que fazem a diferença no quotidiano. Não votar nas autárquicas é abdicar de influenciar quem gere o orçamento que paga o jardim onde os filhos brincam, o mercado municipal onde se compra fruta, a recolha do lixo que evita maus odores na rua ou até o apoio à associação cultural que mantém viva a identidade da terra.
Votar nas eleições autárquicas não é apenas escolher um presidente de câmara ou de junta, é decidir quem terá o poder e a coragem de resolver os problemas concretos e visíveis da comunidade. É, acima de tudo, assumir responsabilidade cívica pelo lugar onde vivemos, trabalhamos e criamos família.
Abster-se, pelo contrário, é deixar que outros decidam por nós. E se a desculpa é a desconfiança nos políticos, então é ainda mais urgente participar, fiscalizar, exigir transparência e, claro, votar. Só assim a política de proximidade cumpre a sua função: aproximar o poder das pessoas.
Por isso, da próxima vez que alguém disser “não costumo votar nas eleições autárquicas”, a resposta deve ser simples: “Mas devia. Porque é aí que tudo começa.”