“O CHEGA vai a eleições sozinho e não fará acordos, nem pré nem pós-eleitorais, com nenhuma força política”, disse o cabeça de lista do partido, Miguel Castro, em entrevista à agência Lusa, para logo reforçar: “O nosso acordo e o nosso compromisso têm que ser com os cidadãos e temos de respeitar, no cenário pós-eleitoral, aquilo que os cidadãos escolherem.”
O candidato, também líder do CHEGA/Madeira e do grupo parlamentar na região, adiantou que o objetivo é crescer e, por outro lado, defendeu que a força mais votada nas eleições antecipadas de 26 de maio deve formar governo.
“Eu acho que é muito legítimo em democracia, se Miguel Albuquerque [PSD] tiver mais votos, fazer governo. Agora, […] ele não vai fazer governo é com os votos do CHEGA”, afirmou.
Miguel Castro considera que o presidente demissionário do Governo Regional PSD/CDS-PP e cabeça de lista social-democrata terá de “aprender a viver em democracia” e procurar entendimentos no parlamento caso não consiga formar um governo maioritário.
“O mesmo eu digo, e que fique registado, de Paulo Cafôfo. Se for Paulo Cafôfo o candidato com mais votos, que tenha ele também a coragem de fazer a mesma coisa. Que governe, mesmo que não tenha maioria, se for o partido mais votado, e que venha à casa da democracia negociar com os partidos”, declarou, referindo-se ao líder e cabeça de lista do PS do arquipélago, o maior partido da oposição regional.
O candidato do CHEGA reiterou não estar disponível para acordos de governação com ninguém, mas disse que o partido está totalmente disponível para debates parlamentares.
“Não vamos fazer fretes nem favores a ninguém”, avisou.
Miguel Castro, que tem 51 anos (nasceu em 02 de janeiro de 1973) e é funcionário público na área do ambiente, considera que alguns partidos poderão beneficiar, em termos de resultado eleitoral, da crise política que motivou a queda do Governo Regional, na sequência do processo que investiga suspeitas de corrupção na Madeira e no qual Albuquerque é arguido.
“É óbvio que estas situações vão privilegiar os partidos que se opõem a tudo isto e que pedem ao povo que lhes dê a legitimidade para tornar a democracia e o exercício da governação mais transparente”, disse, acrescentando: “Os governantes têm de saber que quando são eleitos pelas pessoas vão para ali para servir a comunidade, não é para se servir a si.”
O cabeça de lista, que é natural do Porto Santo, mas reside no Funchal, explicou que, por isso, entre as 12 principais propostas do programa eleitoral do partido, se destaca a luta contra a corrupção.
“Nós achamos que a luta contra a corrupção, especialmente no exercício político, deve ser uma bandeira transversal a todos os partidos que são democraticamente eleitos, porque há que valorizar não só os cidadãos, mas também os políticos”, disse, sublinhando que “os políticos, para serem novamente acreditados e levados a sério, têm que exercer uma governação transparente”.
O reforço da autonomia, a defesa da identidade cultural madeirense, a valorização do setor primário e a dignificação da saúde são outras das propostas do CHEGA, bem como o reforço da coesão social, a valorização da família, a defesa do ambiente e o reforço da segurança e valorização das forças de segurança.
Miguel Castro destacou também a reforma dos transportes e das ligações áreas e marítimas, lembrando que a Madeira e os Açores não dispõem de ligação marítima de passageiros ao continente, embora essa seja uma competência do Governo da República.
“Mas há que haver um governo na região que tenha a capacidade de exigir à República essa ligação marítima”, afirmou.
A dinamização da economia regional para atenuar a dependência do turismo e a valorização do setor da educação contam-se também entre as principais propostas que a candidatura vai defender durante a campanha eleitoral que começa no domingo.
Basílio Miguel da Câmara Castro, que já foi militante do PSD, aderiu ao CHEGA em 2019 e é presidente da comissão política regional desde 2022. Nas legislativas de 23 de setembro de 2023 o partido foi o quarto mais votado e elegeu quatro deputados, obtendo 12.029 votos (9,13%), num universo de 135.446 votantes.
As antecipadas de 26 de maio ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP) foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.
Nos dois últimos mandatos, o PSD de Albuquerque (que preside ao executivo desde 2015) falhou a maioria absoluta, levando os sociais-democratas a fazer uma coligação com o CDS (2019) e, depois, um acordo de incidência parlamentar com o PAN (2023).