No último hastear da bandeira azul, na Praia de Mira, o executivo mirense solicitou ao governo ajuda para erradicar os jacintos-de-água. Aproveitou as presenças da Secretária de Estado do Mar e do Vice-Presidente da APA (Agência Portuguesa do Ambiente) para pedir “meios mecânicos, humanos e financeiros” para uma “intervenção mais musculada” para num futuro próximo dotar a Praia de Mira de uma praia fluvial. Referiu também que “os jacintos-de-água são uma praga que impede que a luz penetre nas águas e toda a atividade no leito da Barrinha. Embora o município tenha vindo a efetuar trabalhos no sentido de erradicar essa praga, são necessários mais meios” fim de citação.
Já na última Assembleia Municipal, Artur Fresco, informou os munícipes da incapacidade do executivo municipal para a erradicação das infestantes aquáticas. Na mesma assembleia municipal, a bancada do Partido CHEGA questionou o executivo, se era feita alguma monitorização química, nomeadamente medição e registo de nitratos e fosfatos nas águas onde proliferam os jacintos-de-água, tendo sido a resposta negativa. A mesma bancada retorquiu que a erradicação total e completa dos jacintos não passa apenas pela remoção mecânica das plantas, quer por maquinaria ou ações de voluntariado, mas sim por várias vertentes, uma química (monitorização de valores de nitratos, fosfatos, PH e metais pesados), outra biológica (estudo do ciclo de crescimento e reprodução do jacinto-de-água e por fim uma vertente hidrológica (estudo das correntes e ventos predominantes nos recursos hídricos).
A remoção de uma espécie invasora e infestante é um problema complexo, principalmente se existirem fatores potenciadores desse desenvolvimento. A origem da proliferação dos jacintos-de-água nos recursos hídricos mirenses está muito a montante de Mira e da Praia de Mira. O uso abusivo de adubos químicos na agricultura, redes de saneamento mal planeadas e mal dimensionadas e com descargas constantes e a diminuição do caudal dos canais e valas são a origem do problema. A remoção pura e simples desta planta nunca será a solução definitiva, até porque os jacintos-de-água absorvem grandes quantidades de poluentes (nitratos, fosfatos e metais pesados). A sua pura remoção mecânica irá resultar num aumento descontrolado do nível de nitratos e fosfatos o que implicará a curto prazo um aumento exponencial de novas plantas. Assim a abordagem terá de ser sempre múltipla e em várias vertentes, extremamente rigorosa e ao longo de muito do tempo.
Como todos se lembram, durante anos, Águeda viveu com a ameaça constante de cheias na zona mais baixa da cidade. Hoje essa ameaça faz parte do passado, pois o município após anos de desleixo e falta de apoio do poder central, decidiu chamar a si a resolução do problema. Primeiro procurou reunir toda a informação sobre o problema, depois procurou situações semelhantes, nomeadamente nos Países Baixos. Por último construiu a solução que se revelou um case study.
Mira terá de fazer o mesmo. Não será certamente a entrada em funcionamento da ETAR das Cochadas, na Tocha (concelho de Cantanhede) e uma pretensa promessa da APA de limpeza das valas e canais de Mira que serão a solução milagrosa. A solução passará certamente pela monitorização química e regular em pontos estratégicos dos recursos hídricos (valas, canais, Lagoa e Barrinha), a remoção mecânica que terá sempre de ser articulada com a biologia da planta e o conhecimento científico e empírico das correntes e ventos predominantes. Só uma abordagem múltipla, cuidada e bem planeada podem resolver o problema. As soluções desorganizadas, apressadas e mal planeadas, por muito musculadas, serão sempre paliativas e ineficientes.