Desde as eleições de Março, Portugal tem vivido sob uma governação contínua de campanha, onde a principal prioridade parece ser a preservação e o aumento da popularidade política, em detrimento da implementação das reformas estruturais essenciais ao futuro do país. O Orçamento de Estado para 2025, longe de ser um instrumento estratégico para o desenvolvimento sustentável de Portugal, transformou-se numa arma política, desenhada para manter o governo no poder à custa de medidas populistas e superficiais. Este fenómeno espelha a aplicação da Lei de Gresham, onde a “má moeda” expulsa a “boa moeda” da circulação. No caso do orçamento, as “más políticas” — medidas de curto prazo e sem visão de futuro — estão a substituir as “boas políticas”, que poderiam verdadeiramente transformar o país a longo prazo.
O princípio económico da Lei de Gresham afirma que, quando duas formas de moeda coexistem, a de menor valor tende a substituir a de maior valor. Da mesma forma, na política, as medidas populistas, que oferecem benefícios superficiais a curto prazo, têm frequentemente mais destaque do que as políticas de reforma, que exigem sacrifícios, mas que poderiam transformar o país de forma sustentável. Esta analogia é evidente no contexto do Orçamento de 2025, onde as boas políticas de reforma estrutural, que poderiam preparar o país para enfrentar os desafios globais e internos, são constantemente empurradas para o fundo da agenda, enquanto as más políticas, que oferecem resultados imediatos mas insustentáveis, dominam o debate.
Ao analisar as principais medidas inscritas na proposta de Orçamento do Estado para 2025, torna-se claro que o Governo privilegia um modelo de governação cuja principal preocupação é a preservação da popularidade eleitoral, em vez de um compromisso sério com as reformas que o país realmente necessita. Esta obsessão com a popularidade manifesta-se nas políticas anunciadas, que visam apaziguar o descontentamento popular no imediato, mas que falham em criar bases sólidas para o futuro. A distribuição de subsídios temporários e os aumentos salariais, sem qualquer critério ou reforma profunda, são exemplos claros desta abordagem.
A prática de recorrer a subsídios temporários pode, no curto prazo, dar a impressão de que o governo está a responder aos problemas da população. No entanto, a realidade é que essas medidas são insuficientes para atacar as causas profundas das dificuldades económicas que o país enfrenta. O recurso frequente a esses subsídios é um reflexo de uma visão limitada e de curto prazo, que prefere adiar as dificuldades estruturais em vez de as resolver.
Nas últimas semanas as “linhas vermelhas” passaram a ser o ponto central do discurso político do PS. Este conceito, em vez de servir como uma forma de defesa de princípios inegociáveis, tem sido amplamente utilizado como uma táctica de bloqueio ao debate e à negociação. Também o “não é não”, slogan, que se tornou um símbolo da inflexibilidade do PSD face ao Chega, é mais um reflexo da transformação da política num espectáculo mediático, onde as aparências contam mais do que os resultados. O “não é não” é uma expressão de radicalismo, que rejeita qualquer forma de compromisso, negociação ou pragmatismo. É uma política de absolutos, onde o dialogo e as cedências são sacrificadas em prol de uma postura pública de força.
O Orçamento de 2025 foi, em grande medida, moldado por este tipo de postura. Em vez de promover um diálogo construtivo sobre as reais necessidades do país – como a reforma do sistema de pensões, a crise na habitação, a modernização do sistema de saúde e o futuro da educação – o governo e os partidos da oposição preferiram adoptar uma posição de recusa. O resultado, como não seria de estranhar, é um orçamento que não reflecte uma visão de futuro para o país, mas sim uma colecção de medidas pontuais que visam evitar conflitos e manter a fachada de governação dos últimos anos.
Tal como na Lei de Gresham, o “não é não” e as”linhas vermelhas” funcionam como uma má moeda política: bloqueia o progresso e impede que as boas moedas políticas – aquelas que exigem diálogo, compromisso e visão a longo prazo – entrem em circulação. Portugal não pode continuar a ser governado sob o signo da intransigência, pois essa abordagem está a levar o país para um caminho de paralisia política e estagnação económica, em prol de ganhos políticos imediatos.
Se queremos garantir um futuro próspero para Portugal, é urgente que abandonemos esta lógica de campanha permanente e espectáculo político. Portugal precisa de uma governação corajosa, focada em verdadeiras reformas estruturais que possam garantir a sustentabilidade financeira, modernizar o Estado e promover o crescimento económico.
Chegou a hora de romper com este ciclo de mediocridade. A verdadeira coragem política não está em prometer o impossível, mas em tomar as decisões difíceis que podem garantir um futuro mais próspero e justo para todos os portugueses. O país merece mais do que a perpetuação de uma governação de campanha, onde as promessas vazias substituem as soluções reais.
Se os nossos líderes continuarem a falhar na responsabilidade de enfrentar este desafio, cabe aos eleitores exigir uma mudança drástica e imediata — antes que seja tarde demais. O tempo para corrigir os problemas estruturais de Portugal está perigosamente a esgotar-se, e os danos causados por políticas vazias e superficiais são visíveis a cada dia na deterioração da qualidade de vida dos cidadãos.
Precisamos de líderes com a coragem de colocar os interesses do país acima dos seus próprios ganhos políticos. Caso contrário, estaremos a caminho de uma crise irreversível, fruto de uma liderança fraca e de uma constante fuga às decisões difíceis que o futuro exige.