Hospitais enfrentam crise de internamentos sociais com impacto em urgências e cirurgias

O aumento de doentes com alta clínica retidos nos hospitais por razões sociais é um dos maiores obstáculos à gestão de camas hospitalares, afetando a resposta nos serviços de urgência e impedindo a realização de cirurgias.

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Esta realidade transforma camas hospitalares em respostas sociais improvisadas, com riscos clínicos para os utentes, custos elevados para os hospitais e impacto direto no acesso dos outros doentes ao Serviço Nacional de Saúde.

Hospitais contactados pela agência Lusa apontam como razões para este problema a espera por vagas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), em lares de idosos ou apoio domiciliário, processos judiciais pendentes e ausência de retaguarda familiar.

Na ULS São José, em Lisboa, os números ilustram a dimensão do problema. Em 2023, registaram-se 325 doentes em protelamento de alta, totalizando 8.334 dias de internamento inapropriado.

Em 2024, os casos subiram para 429, totalizando 16.673 dias, um aumento de 32% no número de utentes e de 100% nos dias de ocupação. Em 2025, até 30 de novembro, os dados já apontam para 488 doentes e 23.330 dias de protelamento.

Atualmente, a ULS regista 95 internamentos por motivos sociais, dos quais 20 em camas contratualizadas em unidades externas.

A média de internamento aumentou de 25,6 dias em 2023 para 38,9 dias em 2024, atingindo 47,8 dias até novembro de 2025.

A instituição adianta que cerca de 90 doentes permanecem diariamente internados por falta de resposta comunitária, o que representa um custo indevido estimado de 8,4 milhões de euros em 2025, considerando 255 euros por diária.

Segundo a ULS São José, esta situação impacta negativamente numa gestão eficiente do internamento, com consequências no Serviço de Urgência, onde os doentes acabam por permanecer por períodos prolongados, enquanto aguardam vaga no internamento, e na atividade cirúrgica.

Na ULS Santa Maria, em Lisboa, o fenómeno também é crescente: 300 internamentos inapropriados em 2023, que passaram para 334 em 2024 e 505 em 2025, sendo o tempo médio de internamento de 50 dias.

A instituição salienta que, apesar do aumento acumulado de casos, a média diária destes internamentos diminuiu graças ao reforço da equipa de assistentes sociais no Serviço de Urgência Central, à criação da Unidade de Gestão Integrada de Camas e Altas, à monitorização diária pelo Conselho de Administração e ao investimento em camas de proximidade, que nesta fase se situam nas 155.

Como impactos desta situação, a ULS Santa Maria aponta o risco para a saúde do doente devido a uma maior exposição a infeções hospitalares e “constrangimentos no normal fluxo de doentes”, concretamente os que necessitam de internamento, através da urgência, nomeadamente em picos sazonais, “como é o caso da situação vivida atualmente”.

Na ULS Almada-Seixal, esta realidade tem tido “uma expressão crescente” no Hospital Garcia de Orta, com um crescimento de 12,9% face a 2023, ano em que se registaram 1.312 casos (13.275 dias). No ano seguinte foram 1.440 (15.197 dias) e 1.481 em 2025 (mais de 22.000 dias).

Neste momento, estão ocupadas 70 camas hospitalares, às quais acrescem 60 camas contratualizadas no exterior.

Segundo a ULS, o tempo médio de internamento ronda os 90 dias, com um impacto financeiro estimado superior a cerca de 3,8 milhões de euros.

Na ULS Matosinhos, até 16 de dezembro foram identificados 91 doentes em protelamento de alta, totalizando cerca de 19.000 dias de internamento inapropriado.

Apesar da aposta numa gestão ativa da alta e na referenciação para cuidados continuados com espera no domicílio, o bloqueio de camas teve reflexo na atividade cirúrgica, com 717 cirurgias canceladas entre 2023 e 2025 por ausência de vagas de internamento. Este ano, até dia 15 de dezembro, foram adiadas 343, o dobro face a 2024 (171).

Para mitigar a escassez de camas, a ULS Matosinhos contratualizou 34 camas externas este ano, com custos superiores a 1,1 milhões de euros.

Na ULS Amadora-Sintra, em 17 de dezembro 112 utentes aguardavam resposta do foro social (maioritariamente da Segurança Social), sendo a grande maioria idosos (106), uma realidade considerada preocupante pela coordenadora do Serviço Social, Adélia Gomes, tendo em conta ainda se estar “no início do inverno”.

Segundo Adélia Gomes, a grande maioria dos casos tem a ver com “a morosidade e parca resposta” aos pedidos de integração em lares de idosos e a situações colocadas ao Ministério Publico, para nomeação do Acompanhante do Maior.

“Nesta ULS para além da população idosa só, ou com fraco suporte familiar (por exemplo o cônjuge é também muito idoso e/ou dependente), temos muita população em situação irregular, o que torna o processo de continuidade de cuidados e apoio social mais moroso e complexo”, salientou.

A agência Lusa contactou hospitais de todo o país e aguarda mais respostas.

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