Corria o ano de 1945, quando a Rainha do Fado, Amália Rodrigues, cantou pela primeira vez aquele que viria a tornar-se num dos seus êxitos mais famosos: «Ai, Mouraria». A popular canção, com letra de Frederico Valério, versava sobre um dos bairros mais pitorescos, populares e fadisteiros da Lisboa antiga.
Este foi também um dos primeiros fados que aprendi em pequeno e que, ainda hoje, me acompanha muitas vezes. Voltei-me a lembrar da sua letra – da “velha rua da Palma”; dos “rouxinóis nos beirais” e dos “pregões tradicionais” – a propósito dos tristes incidentes, que puseram nas bocas do mundo, as vielas deste bairro da capital.
A situação que lá se passa não é nova, nem exclusiva. Do Benformoso ao Terreirinho, da Almirante Reis ao Intendente, a calamitosa, insustentável e criminosa situação em que se encontram milhares e milhares de imigrantes, torna o centro da cidade de Lisboa: Arroios, S. Vicente, Santa Maria Maior e Santo António, um autêntico aterro a céu aberto.
Vamos por partes. Vi esta semana toda a gente, dos comentadeiros habitués, a políticos e autarcas, todos muito indignados e entristecidos, com o incêndio que deflagrou no passado fim de semana no no 55 da Rua do Terreirinho. Quando há tragédias, acordam todos para a choradeira habitual. Quando as podiam ter impedido de acontecer, fechavam os olhos e assobiavam para o lado.
Só agora é que descobriram que há situações em que dezenas de pessoas se amontoam em beliches sem condições? Não acham estranho, ao passar os atestados de residência, que numa rua com quatrocentos metros, hajam 10 000 residentes? Ou num só prédio, 1400 moradores? Só agora é que acham suspeito, que na Freguesia de Arroios, durante o consulado da ex-porteira do Frágil, Dra. Margarida Martins, se tenha chegado ao ponto de se passar um novo atestado de residência a cada 9 minutos? Durante anos, quiseram mais imigração. Facilitaram, a cada versão da lei, os procedimentos para obtenção da nacionalidade. Era o venham tudo e de qualquer maneira. E agora admiram- se.
Há dias, um senhor já velhinho, residente num desses bairros, resistente à maré dos subarrendamentos, era entrevistado em direto para um desses canais generalistas. A resposta que deu, franca, honesta, desconcertada foi a seguinte: «Sinto que já não vivo em
Portugal. Vivo no Bangladesh!». Claro que a repórter, aflita, deu a volta ao texto e rapidamente acabou a entrevista – não convém dizer as verdades – mas fica a nota de que é este o sentimento dos poucos portugueses que por lá restam: já não se sentem na sua própria pátria.
O barulho até altas horas, as zaragatas, tantas vezes violentas, o lixo acumulado na via pública, as fogueiras nas ruas, os talhos Halal, as múltiplas lojas ilegais, as mesquitas a céu aberto, os condutores de bicicletas que não respeitam o trânsito – isto é, para nós que vivemos no centro de Lisboa, o pão nosso de cada dia, uma realidade à qual tivemos forçosamente de nos habituar.
Pergunto: será que a culpa é somente dos imigrantes, do nepalês ou do paquistanês que para cá vem? Ou será antes dos portugueses, dos políticos que nas últimas décadas têm promovido esta avalanche migratória, este suicídio demográfico, esta substituição populacional?
Poderão não ser bem interpretadas as minhas palavras, mas mesmo correndo o risco de as não serem, di-lo-ei na mesma. O Mohamed, o Ching-Chong, e afins que para cá vêm, buscam um El Dourado, uma realidade que lhes é erradamente vendida, por redes organizadas de tráfico de seres humanos. Vêm e deixam tudo, investem as poupanças de uma vida até aqui chegar, aos confins da ibéria.
Por cá, rapidamente se apercebem, que a realidade é bem mais cinzenta do que aquela que lhes pintaram. E vivem em tendas, em quartos sobrelotados, em beliches desumanos. São, tantas vezes, explorados pelas empresas de entrega de comida, para nós, burgueses bem-pensantes da cidade, termos os pratos que queremos sem sairmos do sofá. Aliança mais nítida não podia haver, entre alguns grupos económicos e a imigração selvática. Mão de obra barata e abundante: é assim em Lisboa, como em Odemira, como um pouco por todo o lado. E o Estado, mais uma vez, assobiando para o lado.
É aqui que nós, enquanto partido político de Direita Nacional, e enquanto partido de governo, podemos fazer a diferença. Cumpre que a atual lei da Nacionalidade seja revista, e que se acabe com este laissez-faire migratório. Que a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras seja revertida e que esta instituição tenha meios e força para atuar no terreno. Fiscalização tem de ser a palavra de ordem. Casa a casa, prédio a prédio, rua a rua. Os ilegais, aqueles cuja situação não está regularizada, só podem ter um destino: o regresso a casa.
E daqui para a frente, urge a adoção de um sistema de cotas, que permita ao nosso país perceber que imigrantes quer, quantos necessita, de que países, para que áreas, com que formação? A imigração não é um direito. É um privilégio. Que o saibam todos, e que se sintam agradecidos pelo país que os recebe, que se esforcem por se integrar na sociedade acolhedora, que aprendam a língua e respeitem a cultura, que se sintam em casa, numa casa que recebe com «pão e vinho sobre a mesa», mas sempre e somente a quem vem por bem. A quem não, a porta da rua é serventia da casa.