No encontro de Madrid de 19 de maio, organizado pelo Vox, partido da extrema-direita espanhola liderado por Santiago Abascal, desfilaram nomes como o português André Ventura (CHEGA), a francesa Marine Le Pen (União Nacional), a italiana Giorgia Meloni (Irmãos de Itália), o húngaro Viktor Órban (Fidesz) ou o polaco Mateusz Morwiecki (Pis).
São todos partidos considerados de direita radical ou nacionalistas conservadores, com discursos frequentemente qualificados por adversários e académicos como xenófobos e antieuropeístas, focados na imigração e no controlo de fronteiras, entre outros temas.
Não são, porém, partidos inscritos no mesmo grupo no Parlamento Europeu (PE) e há entre eles várias diferenças, como por exemplo no que diz respeito ao apoio à Ucrânia e à proximidade com o regime russo de Vladimir Putin.
As sondagens e eleições recentes em diversos países da UE fazem prever um aumento da representação da direita radical no próximo PE, saído das eleições europeias deste mês, que decorrem entre 06 e 09 de junho.
“São eleições decisivas porque pela primeira vez o resultado pode acabar com maiorias antinaturais e contraproducentes”, disse em Madrid Giorgia Meloni, que é também primeira-ministra de Itália e a líder dos Reformistas e Conservadores (ERC), um dos grupos do PE, de que também faz parte o Vox.
Meloni considerou que só acabando com as “maiorias antinaturais” formadas por socialistas e social-democratas, populares e liberais é possível fazer mudanças nas “políticas suicidas” europeias para a imigração ou as alterações climáticas.
A imigração, que vários dirigentes, como Abascal e Le Pen, associaram à criminalidade (contrariando os estudos e as estatísticas) e consideraram, como Meloni e a generalidade dos restantes, uma ameaça à identidade e às “raízes cristãs” europeias, esteve presente em todos os discursos na convenção do Vox, embora não tenham sido totalmente coincidentes.
Meloni, por exemplo, reivindicou conquistas nos últimos meses, com mudanças introduzidas no Pacto sobre Migrações e Asilo da UE, que o seu partido e outros do ERC votaram favoravelmente (alguns só de forma parcial), tendo sido essenciais para a aprovação de um acordo que mais de 160 organizações não-governamentais (ONG) criticam por considerarem atentar contra os direitos humanos.
“Não mais fronteiras abertas”, afirmou Meloni, antes de acrescentar: “Pensem em que outros resultados podemos conseguir se formos capazes de mudar a maioria atual no próximo Parlamento Europeu”.
O outro grande grupo de direita radical no PE é o Identidade e Democracia (ID), onde está o União Nacional, de Marine Le Pen, que se opôs e votou contra o Pacto sobre Migrações e Asilo.
“Um triste pacto” imposto por “burocratas que desconhecem a realidade”, disse a dirigente francesa, que defende a reintrodução de fronteiras nacionais dentro da UE para pessoas oriundas de países terceiros.
Apesar das diferenças assumidas, Le Pen pediu para todos os partidos presentes em Madrid chegarem a Bruxelas após as eleições com “a maior delegação possível” de eurodeputados e considerou “importante haver fraternidade e cooperação” entre todos no PE.
“A Europa da soberania e dos Estados, a Europa da identidade e das nações precisa das nossas forças combinadas. […] Espero que sejamos muitos no Parlamento Europeu. É o momento de reorientar a União Europeia”, disse Marine Le Pen, que considerou que há “princípios simples” que todos partilham.
Também Órban (cujo partido não está filiado em nenhum grupo europeu neste momento) falou em “grande batalha comum” e na necessidade de “os patriotas ocuparem Bruxelas”, num vídeo divulgado na convenção de Madrid.
A mesma ideia manifestaram André Ventura, Santiago Abascal e o cabeça de lista do Vox nas eleições europeias, Jorde Buxadé.
“Temos de formar, os patriotas e conservadores, uma frente comum em tudo o que nos une”, disse Buxadé.
“Temos a obrigação moral de cooperar entre nós”, corroborou Abascal, que acusou o Partido Popular europeu e espanhol de ser uma “’direitita’ cobarde e fraudulenta”, por se aliar com a esquerda, votando ao lado dos socialistas em 90% dos casos, impedindo que haja “outra Europa”.
Para Abascal, os partidos presentes em Madrid enfrentam “as mesmas ameaças” e devem estar “dispostos a ser solidários e a colaborar uns com os outros”.
O líder do CHEGA, que deverá eleger os primeiros eurodeputados nestas eleições e integrar o grupo ID, disse a jornalistas portugueses, em Madrid, que este ano todas estas forças políticas “estão a lutar em toda a Europa no mesmo sentido”.
Segundo André Ventura, ECR e ID têm “pontes cada vez mais próximas”, com o objetivo de construírem “uma grande maioria” no próximo PE “contra a agenda verde e em defesa da agricultura” e em “defesa de uma Justiça mais forte” e de “fronteiras contra a imigração ilegal”.