A investigação judicial sem precedentes, que revelou a existência, na Madeira, de uma rede tentacular de interesses, conluios, compadrios, clientelismos e relações profundas de corrupção entre certa classe política e determinados grupos económicos, é o culminar de um longo processo degenerativo da política madeirense, cuja face são os mais recentes acontecimentos, mas cujas raízes têm décadas. Para os madeirenses e porto-santenses que conhecem bem e que sentem na pele as consequências cáusticas da uma terra dominada por pequenos oligarcas, armados em ‘donos disto tudo’, o que tem vindo a público não é novidade. Como também não são determinados milagres económicos que ocorrem repetidamente nestas nossas ilhas, pelos quais certos eleitos para cargos públicos vão de falidos a milionários num mandato ou dois, sendo certo, sabido e lógico que não é dos salários que a fortuna lhes vem.
Mas, além de um PSD decadente, apodrecido, corrompido e totalmente incapaz para assumir as importantes responsabilidades que sobre si recaem, a crise política também revelou atitudes deploráveis dos partidos que gravitam na órbita dos sociais-democratas e que dela dependem para a sua sobrevivência política.
Nesse sentido, o PAN, fiel à sua desfaçatez e absorto na sua ilusão de grandeza, não hesitou em colocar, acima de tudo, a sua agenda fracturante, exigindo uma mulher para presidente do governo. Os mesmos que venderam o voto de uma deputada por medidas irrisórias (será que foi mesmo só isso?), não perderam a oportunidade para expressar a sua imaturidade, impreparação e demérito para se sentar à mesa onde são tomadas decisões reais e de consequência. Melhor ficariam no seu mundo do ‘faz de conta’, onde a vida animal vale mais que a vida humana, o consumo de drogas é aceitável, o assassinato de idosos doentes é uma obrigação e qualquer noção de pudor cai facilmente perante as luzes de uma qualquer gambiarra de presépio.
Por sua vez, o CDS, que vendeu a sua matriz ideológica por um número de tachos no governo regional, trouxe a público uma sugestão tirada de um qualquer compêndio soviético, sugerindo que o PSD, CDS e PAN produzissem mais um arranjinho governativo para governar a Região como bem entenderem, evitando, assim, que a população se pronuncie soube a vergonha política instalada. Porque, para o CDS, o que mais interessa é proteger o salário, os luxos e os privilégios do punhado de militantes que tomaram de assalto o partido e que o venderam ao PSD, todas as opções são boas, desde que se evite, a todo o custo, o escrutínio popular. E porquê tanto medo do povo? Porque o CDS sabe muito bem o futuro (ou a ausência dele) que o espera.
Ainda, o PS de Paulo Cafofo espuma desesperadamente, tal é a ânsia que o move. Convencido que a hecatombe moral e ética do PSD lhe trará o poder que nunca soube conquistar por mérito próprio, a liderança socialista grita e desespera por eleições – a qualquer custo, a qualquer hora, em qualquer dia e o mais rapidamente possível. Chega a ser deprimente a sede de holofotes, a qual pode se revelar ingrata quando a população perceber melhor que o líder do PS é ‘apenas’ um antigo secretário de Estado do governo mais corrupto da história da nossa democracia e o representante local de um ex-ministro desse mesmo governo, que se demitiu da posição que previamente ocupava por vergonhosa e comprovada incompetência na gestão das pastas ao seu cuidado. É esta gente sem nível que quer governar a Madeira?
Por fim, a JPP tornou-se a encarnação política de um abutre melindroso e calculista. Pousado na vedação, de onde observa a evolução penosa dos acontecimentos, aguarda a queda dos cadáveres partidários para decidir sobre qual irá realizar o seu banquete. Neste jogo de espera, o tacticismo e a estratégia tomaram o lugar dos valores e dos princípios, pois mais importante do que estarem juntos pelo povo, é estarem unidos pelo oportunismo. Efectivamente, já não enganam ninguém.
Longe de tudo isto, o CHEGA está preparado para fazer diferente e melhor, sempre focado num futuro colectivo que terá obrigatoriamente de ter um novo formato. O ciclo de domínio hegemónico do PSD na Madeira acabou e o que se irá passar na Região daqui em diante terá, sem qualquer dúvida, a marca do nosso grande partido.