Emigração de jovens formados em Portugal preocupa bispo responsável pela Pastoral Social

O bispo de Santarém manifesta-se “incomodado” com a necessidade de emigrar de muitos jovens portugueses após concluírem os seus estudos universitários, considerando que isso “não corresponde àquilo que era expectável” 50 anos depois do 25 de Abril.

© Facebook da Dioceses de Santarém

“Preocupa-me que os jovens, ao fazerem um curso na universidade, tenham de ir trabalhar para outro país da Europa para terem um rendimento, com o qual possam sustentar o seu próprio futuro. Isto incomoda-me. Não corresponde àquilo que era expectável”, disse José Traquina em entrevista à agência Lusa, classificando como estranho que o país faça um “investimento grande na formação, em universidades”, o qual é colocado depois ao serviço no estrangeiro.

Para o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, órgão da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) “não quer dizer que as pessoas não possam emigrar, claro, mas há qualquer coisa aqui que não corresponde, que não está bem”.

Fazendo o balanço da evolução da sociedade portuguesa nos 50 anos pós-revolução, José Traquina afirma perentório que há aspetos “muito positivos e é bom e é necessário reconhecê-lo”, apontando, desde logo, o fim da guerra nas antigas colónias de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, a par da liberdade de expressão e o combate à pobreza do país.

“Eu tinha já 20 anos e incomodava-me saber que estava ali alguém a poder ouvir [as conversas]. Quando me dei conta dessa perigosidade, era uma coisa que incomodava, não poder estar a falar à vontade, porque havia gente que ouvia, que denunciava, era uma coisa esquisita esse ambiente. Mas a outra dimensão era a pobreza do país. Era um Portugal enorme, com muitas províncias, mas vivia muito mal, a maioria”, recorda o bispo.

Com a revolução “conseguiu-se mais saúde, mais vida, mais estradas, mais hospitais, mais escolas, mais formação. Houve tudo mais ao longo de 50 anos, é preciso reconhecê-lo”, afirma, alertando, no entanto, para a necessidade de “fazer o balanço dos anos de 1985/1990 para cá”.

“A situação económica do país oscilou”, com a entrada em cena de “grandes grupos económicos, grandes estabelecimentos comerciais”, o que levou a que “o pequeno comércio fosse abafado”.

“Isto alterou a fisionomia que havia numa sociedade remediada. E convém que nesta altura, ao fazer 50 anos [da revolução], se pense como é que queremos isto em termos de futuro. Como é que se vai conseguir uma situação remediada das pessoas”, alertou o prelado, para quem é preocupante “ver o número de pobres [em Portugal], cuja percentagem não desce”.

Sobre o futuro da democracia, não tem a perceção de que possa estar em risco, sublinhando que o hipotético perigo para a democracia “resulta da pouca formação das pessoas”.

“Quem tem formação e tem consciência do que é viver debaixo da ditadura, ou o que é viver no caos, prefere uma democracia que funcione, mas, para haver democracia, tem de haver homens políticos bem formados. Tem de haver gente que tenha um sentido de justiça e de coerência de vida”, considera o bispo de Santarém, avisando que “se entra no sistema democrático gente que não é séria e, portanto, quer fazer a seu modo”, sabe-se que “não resulta”.

Alerta, no entanto, para o aumento da agressividade na sociedade portuguesa, o que aponta para uma lacuna na formação.

“Um dos problemas da sociedade portuguesa é ter aumentado a violência e a agressividade em famílias, escolas, o que denuncia que há uma falha na formação humana. Por que razão é que, para nos entendermos, temos de andar à briga uns com os outros? Então, não somos capazes de dialogar? Havendo mais formação intelectual, não somos capazes de dialogar? É estranho”, lamenta.

Últimas do País

Um homem morreu hoje, após ter sido baleado no pescoço, em Rio Tinto, no concelho de Gondomar, revelaram à Lusa fontes da PSP e do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
A Polícia Judiciária (PJ) deteve hoje 64 suspeitos de pertencerem a um grupo transnacional organizado que terá conseguido ganhos de cerca de 14 milhões de euros através da prática de ‘phishing’.
A Guarda Nacional Republicana (GNR) inicia hoje uma operação de fiscalização com especial enfoque nas fronteiras terrestres e junto dos operadores vitivinícolas para reprimir a entrada e circulação irregular de vinho no mercado português.
A segunda época de vacinação gratuita contra a infeção pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em crianças começa hoje e deverá abranger cerca de 76 mil menores, segundo as autoridades de saúde.
Dez distritos do continente e a costa sul da ilha da Madeira estão a partir de hoje e até quinta-feira sob aviso amarelo devido à previsão de tempo quente, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O Ministério Público (MP) arquivou o inquérito por violação de segredo de Estado que tinha aberto após ter sido apreendida, na Operação Influencer, uma 'pen-drive' com uma lista de agentes dos serviços de informação.
A praia da Nazaré está desde domingo interditada a banhos, pela terceira vez este verão, devido a uma "escorrência" detetada nesse dia, mantendo-se a medida até serem revelados os resultados das análises efetuadas às águas balneares.
O Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Sintra decidiu hoje levar José Castelo Branco a julgamento nos exatos termos da acusação do Ministério Público (MP) por violência doméstica sobre Betty Grafstein.
As intervenções emergentes e críticas decorrentes dos incêndios rurais deste verão têm o valor de 3,7 milhões de euros, revelou o Ministério do Ambiente e Energia, adiantando existir uma dotação de 15 milhões de euros para ações urgentes.
O número de atendimentos em serviço de urgência do Serviço Nacional de Saúde diminuiu cerca de 4% em duas décadas, entre 2003 e 2023, período em que o número de enfermeiros especialistas triplicou, segundo dados divulgados hoje pelo INE.